Poesias

Você está aqui: Home | Poesias
In Poesia

Poesia: deleite-se ou delete-me (22.04.16).

Maraãvilhosos"Recuerdos" de Maraã.

Papai e seu Bernardo 

 

A idade avança e parece que passamos a viver apenas de passado!

Como era/é boa a juventude onde seu horizonte é apenas o futuro!

Mas, digo eu, “esses moços, pobres moços” se soubessem o que eu e o Renato Teixeira e outros sabemos, saberiam que não existe presente nem futuro, tudo é passado.

Pensem no tempo que escorre cada vez mais veloz à medida em que é dividido. Pensaram?

Pois é, o que acaba de acontecer já não é mais presente, é passado, menos ainda futuro será!

 

"Tudo que se vê não é

Igual ao que a gente

Viu há um segundo

Tudo muda o tempo todo

No mundo".

 

Não é isso, Lulu Santos?

Renato Teixeira diz, em “Quando o amor se vai”, o seguinte:

 

"O futuro acontece

E no mesmo momento

Se entrega ao passado".

 

Por tudo isso vivo focado em Maraã, tudo me remete àquela terra querida, tudo que vi e vejo pela vida parece que aconteceu por lá também! Maraã é um micro Brasil e um micro mundo!

Conspirações políticas, terrorismo, poesia, música etc. tudo está/esteve lá em germe.

Assim é que vivo a pensar querendo e a pensar sem querer naquele grande pedaço de chão que me viu nascer e crescer, digo envelhecer, pois o crescimento não foi lá tão crescido assim!

E quando penso, escrevo!

Eis duas lembranças envolvendo meu pai, Juarez Barbosa de Lima, e o “seu Bernardo” (que, depois, eu, ao ouvir o nome do romance, “São Bernardo”, sempre tinha que me certificar se ouvira corretamente!):

 

Foi morar em Maraã um casal de Coari, Bernardo e Ednelza, juntamente com seus filhos, aliás muitas filhas: Nádia, Totó etc. Um dia papai perguntou pelo Bernardo à esposa, ela disse que ele estava em casa doente, com febre e dor no corpo. Então ela pergunta:

- O senhor sabe o que é bom para isso?

- Sei! Dê para ele “chá de barbudinho” que cura na hora.

- E como é que se faz?

- Pergunte a ele que ele sabe.

D. Ednelza foi para casa às pressas e contou ao marido a conversa encerrando com:

- Como é que se prepara, Bernardo?

Ele olhou sério para ela e perguntou:

- Você ainda não percebeu o que foi que o Juarez disse?!

- Não!

- Chá de barbudinho seria chá de pentelhos, ora.

Decepcionada e enraivecida D. Ednelza, censurou, desapontada a brincadeira de mal gosto.

 

e,

 

Cantando com o seu Bernardo” – quando a lua vem surgindo cor de prata.

 

Papai media quase um metro e oitenta, acredito, e era muito gordo, uma barriga enorme.

Já “seu Bernardo”, um coariense contador da prefeitura de Maraã, media cerca de um metro e meio e era bem magrinho.

De quando em vez a “Voz Educadora de Maraã”, o serviço de altofalantes da cidade, de propriedade da prefeitura, ia para um palanque armado na rua e aí as pessoas iam cantar.

Papai e Bernardo, costumavam cantar juntos a música “Sinfonia da mata”, que diz:

 

Tenho a viola, que retiro da parede,

Quando é noitinha, para pontear

Tenho a gaiola meu canário e uma rede,

Sempre esticadinha pra meu bem sonhar

Quando a lua vem surgindo cor de prata

E ilumina o meu pedaço de torrão

O meu ranchinho aqui no seio da mata

Não precisa nem que acenda o lampião

Sinfonia do riacho e da cascata,

Minha viola completa a orquestração”.

 

Além da desafinação, em especial pela contribuição do papai, a dupla chamava bastante a atenção, juntamente, pela desproporção entre os seus integrantes: o grande e o pequeno!

(na foto acima, bastante desfocada, eles são acompanhados na sanfono pelo querido Délio Alves Braga).

E era, por isso também, bastante requisitada.

Saudade dos dois!

Abraços,

 

Osório

 

POEMEMOS:

A confissão do poeta

(para natália correia)

 

Sou todo errado,

rascunho mal acabado

na obra da criação;

som com chiado;

virtude no pecado;

clareza na escuridão.

sou a desistência

na busca da perfeição;

a pertinência na impertinência;

a ordem, a confusão.

conforme o acordado,

sou eu, o poeta,

a única contradição.

 

Autor de ambos: Cassio Junqueira, "Só poesia", Comunitá, Niteroi, 2011, p. 123.

e,

 Poesia   C Lemos 

 

Você está aqui: Home | Poesias