A idade avança e parece que passamos a viver apenas de passado!
Como era/é boa a juventude onde seu horizonte é apenas o futuro!
Mas, digo eu, “esses moços, pobres moços” se soubessem o que eu e o Renato Teixeira e outros sabemos, saberiam que não existe presente nem futuro, tudo é passado.
Pensem no tempo que escorre cada vez mais veloz à medida em que é dividido. Pensaram?
Pois é, o que acaba de acontecer já não é mais presente, é passado, menos ainda futuro será!
"Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo".
Não é isso, Lulu Santos?
Renato Teixeira diz, em “Quando o amor se vai”, o seguinte:
"O futuro acontece
E no mesmo momento
Se entrega ao passado".
Por tudo isso vivo focado em Maraã, tudo me remete àquela terra querida, tudo que vi e vejo pela vida parece que aconteceu por lá também! Maraã é um micro Brasil e um micro mundo!
Conspirações políticas, terrorismo, poesia, música etc. tudo está/esteve lá em germe.
Assim é que vivo a pensar querendo e a pensar sem querer naquele grande pedaço de chão que me viu nascer e crescer, digo envelhecer, pois o crescimento não foi lá tão crescido assim!
E quando penso, escrevo!
Eis duas lembranças envolvendo meu pai, Juarez Barbosa de Lima, e o “seu Bernardo” (que, depois, eu, ao ouvir o nome do romance, “São Bernardo”, sempre tinha que me certificar se ouvira corretamente!):
“Foi morar em Maraã um casal de Coari, Bernardo e Ednelza, juntamente com seus filhos, aliás muitas filhas: Nádia, Totó etc. Um dia papai perguntou pelo Bernardo à esposa, ela disse que ele estava em casa doente, com febre e dor no corpo. Então ela pergunta:
- O senhor sabe o que é bom para isso?
- Sei! Dê para ele “chá de barbudinho” que cura na hora.
- E como é que se faz?
- Pergunte a ele que ele sabe.
D. Ednelza foi para casa às pressas e contou ao marido a conversa encerrando com:
- Como é que se prepara, Bernardo?
Ele olhou sério para ela e perguntou:
- Você ainda não percebeu o que foi que o Juarez disse?!
- Não!
- Chá de barbudinho seria chá de pentelhos, ora.
Decepcionada e enraivecida D. Ednelza, censurou, desapontada a brincadeira de mal gosto.
e,
“Cantando com o seu Bernardo” – quando a lua vem surgindo cor de prata.
Papai media quase um metro e oitenta, acredito, e era muito gordo, uma barriga enorme.
Já “seu Bernardo”, um coariense contador da prefeitura de Maraã, media cerca de um metro e meio e era bem magrinho.
De quando em vez a “Voz Educadora de Maraã”, o serviço de altofalantes da cidade, de propriedade da prefeitura, ia para um palanque armado na rua e aí as pessoas iam cantar.
Papai e Bernardo, costumavam cantar juntos a música “Sinfonia da mata”, que diz:
“Tenho a viola, que retiro da parede,
Quando é noitinha, para pontear
Tenho a gaiola meu canário e uma rede,
Sempre esticadinha pra meu bem sonhar
Quando a lua vem surgindo cor de prata
E ilumina o meu pedaço de torrão
O meu ranchinho aqui no seio da mata
Não precisa nem que acenda o lampião
Sinfonia do riacho e da cascata,
Minha viola completa a orquestração”.
Além da desafinação, em especial pela contribuição do papai, a dupla chamava bastante a atenção, juntamente, pela desproporção entre os seus integrantes: o grande e o pequeno!
(na foto acima, bastante desfocada, eles são acompanhados na sanfono pelo querido Délio Alves Braga).
E era, por isso também, bastante requisitada.
Saudade dos dois!
Abraços,
Osório
POEMEMOS:
A confissão do poeta
(para natália correia)
Sou todo errado,
rascunho mal acabado
na obra da criação;
som com chiado;
virtude no pecado;
clareza na escuridão.
sou a desistência
na busca da perfeição;
a pertinência na impertinência;
a ordem, a confusão.
conforme o acordado,
sou eu, o poeta,
a única contradição.
Autor de ambos: Cassio Junqueira, "Só poesia", Comunitá, Niteroi, 2011, p. 123.
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