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Poesia: deleite-se ou delete-me (03.06.16).

Maraãvilhosos,

 

 

Banho em Maraã   autor da foto desconhecido.

(Banho em Maraã - autor da foto desconhecido).

 

Não sei de onde seu Nicolau Madureira era originário. Lembro dele como motorista naval de um dos barcos do Município de Maraã, chamado de “lanchinha”, que era muito bonito mas muito pequeno em tamanho, embora de tivesse um motor potente para a época.

Dizia o papai que, e naquela época não tinha barco fazendo recreio, que o safado do prefeito, no caso o Bendito Ramos, comprou aquela embarcação minúscula, justamente para não levar muita gente do povo de uma localidade para outra!

Odorico Bezerra seguiu a mesma tática, tanto assim que quando a “lanchinha” foi sucateada e encostada, ele alugou seu próprio barco para a prefeitura e, assim, poder locomover-se. Seu barco também era minúsculo.

Como a candidatura de Odorico Bezerra foi imposta a Bendito Ramos, este lançou como vice-prefeito Nicolau Madureira. Este, por honestidade ou falta de oportunidade saiu mais pobre da vice de que quando entrou!

Sempre andou todo sujo de óleo e graxa.

Era casado, em Manaus, com D. Toia e com ela tinha alguns filhos, além dos que ela tinha de casamento anterior. Dizem que ela administrava um pequeno comércio que foi de sua mãe! Em Maraã ele convivia uma mulher linda da localidade, que já tinha uma filha quando com ele juntou “os quase nada”. Esta mulher, hoje entrada nos anos, era de uma família de pessoas muito bonitas, homens e mulheres, sendo ela muito bonita mesmo. Ela teve filhos com Nicolau.

Parêntese: menino, eu era apaixonado pela beleza de mulher. Eu sempre a desejei muito, mas ela, enquanto morei lá, nunca me deu bola. Somente depois de adulto e num dos meus retorno por lá ela resolveu atender minhas preces, mas já vivíamos realidades totalmente opostas.

Nicolau depois que deixou a vice-prefeitura foi trabalhar no hospital local, onde não tinha médico ou qualquer outro profissional de saúde.

Numa das idas à cidade de João Amâncio, filho de Antônio Amâncio, que na época era dentista, depois ele se transformaria em primeiro-ministro de seu pai e depois de sua esposa, Bebequinha, que também foi prefeita do Município de Japurá, ele aprendeu a extrair dentes! Curso rápido”!

João lhes deixou anestesias, um aparelho para aplicá-las e um alicate para a extração, o famoso “buticão”. Assim Nicolau, de motorista se transformou em dentista fixo da cidade!

Uma vez eu estava gritando com dor de dente. Papai viu e me chamou para irmos lá com o dentista do projeto Rondon que estava na cidade. Recusei terminantemente, dizendo que queria ir lá com “seu Nicolau”. Papai, espantado, comentou: “Filho-da-puta, como é que tu deixa de ir com uma pessoa que estudou e é um doutor para ir quer ir lá com o Nicolau, que não passa de um motorista de barco?”. Ao que respondi: “É que ele é mais delicado”!

Acabei indo mesmo com o “seu Nicolau”.

Não sei se usei o termo “delicadeza”, mas, realmente, ele transmitia muita confiança com suas brincadeiras e, hoje, sei que era realmente muito delicado e eu não tinha ideia do perigo que seria um maxilar quebrado.

As brincadeiras? “Vem cá que vou arrancar teu queixo”. “Hoje acabou a anestesia”. “Posso pisar no teu peito e puxar o dente?”. Eram estas e outras e ele caia na gargalhada.

Só o que incomodava era o fedor horrível do tabaco em seus grossos dedos.

Com os anos de hospital ele também se transformou em médico. Fazia pequenas operações, como, por exemplo, a retirada de anzóis dos dedos das pessoas e outras microcirurgias.

Portanto, sua carreira foi, sem estudar: mecânico – dentista – médico!

Seu filho com a Jucília, de nome Vitorino, salvo engano nome do avô paterno, herdou sua profissão de dentista! Tudo apenas olhando o trabalho do pai.

Nicoulau tinha uma voz muito potente, grossa e com muitos erres, o que o levou a ser locutor da Voz Educadora de Maraã, ou seja, de dois alto falantes colocados numa vara de cerca de dez metros sobre uma das construções (também fiz locução por lá!).

Uma das palavras que ele pronunciava e que lembro até hoje era o nome de um remédio: “Clorofenicol”. O “col” ele esticava ao infinito: “Clorofenicoooooooooollllllllllll”. Era muito legal!

Certa vez ele apresentava seu programa na “voz” e pediram-lhe uma música. Ele pegou o “compacto”, aquele pequeno disco de cera de carnaúba com uma ou duas músicas de cada lado, olhou, olhou e pediu ajuda ao então prefeito Antônio Simão Netto, dizendo-lhe: “Simão, tu que entende de inglês, qual é o nome dessa música?”. Simão disse que não sabia e então ele arriscou:

Eu acho que é góóde bi”! E era, na verdade “Good by”.

Foi um riso entre os que pouco sabiam de inglês.

Morreu Nicolau mas deixou em mim saudades, tanto assim que fui capaz de escrever o acima.

 

Abraços,

 

Osório

 

POEMEMOS:

Carpe diem

Agora que a presença dos anos

já não me deixa sonhar,

quero estar em vigília

a cada instante da vida.

Estive semeando em floresta,

à espera de colher frutos,

enquanto os lírios, a meus pés,

desabrochavam e morriam.

Não reclamo a semente lançada

entre árvores, que não prosperou:

enquanto semeava, vivia,

embora a sonhar com a vida.

É certo que nunca se perde

a semente lançada ao chão;

se não germina, aduba

A terra ou alimenta os bichos.

Melhor que comer frutos

do que se plantou um dia,

é sentir-se saciado

e desfrutar-se da vida.

 

Autor: Francisco Dias Teixeira, em “Palavras torcidas: ideias espremidas”, p. 76.

 

 

 

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