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Poesia: deleite-se ou delete-me (14.05.16).

 

 

Poesia: deleite-se ou delete-me (14.05.16).

 

Maraãvilho@s,

 

 

Coskun Cokbulan

 (https://www.facebook.com/coskun.cokbulan.2. Esse sujeito e predicado tem fotos lindas! Beto apresentou-me. Grato)

 

Vejam como nascem os Van Gogh’s:

 

https://www.youtube.com/watch?v=XKryWYUSHTQ

 

Até mais,

 

POEMEMOS:

 

Desilusão

 

Desiludido com o mundo,

Afrânio concluiu: 

"uns são filhos da puta,
outros só não o são
porque a mãe é estéril"

Decidido ao suicídio,
no alto da falésia hesitou:

"no mar não me lanço

que é demasiada sepultura.
Como receberei flores
entre tanto peixe faminto?"

Ante a fogueira, Afrânio desfez as contas:

"Na labareda, não.
Como me distinguiria,
depois, entre a cinza da lenha ardida?"

Quando na alta copa se pensou pendurar,
uma vez mais ele se avaliou.
E recordou o vizinho Salomão
que, de enforcado, se converteu em fruto,
seiva correndo na veia,
polpa viva a seduzir a passarada.

Afrânio regressou a casa,
resfregou as solas sobre os tapetes,
a esposa festejou o novo alento.

Engano seu, mulher; respondeu Afrânio
Eu apenas escolhi outro suicídio.
A minha morte é este viver.

 

Autor: Mia Couto.

 

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