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Retratos antigos e saudades.

Pagão e Raimunda retratista 2

Retratos antigos e saudades.

 

Dia desses o amigo Alexandre Lima, lá de Maraã, me enviou a foto do quadro que esta publicação enfeita!

Há muito tempo venho me lembrando dessa arte. Dos “retratistas”!

Tenho um quadro desses, retratando papai, mamãe e eu entre os dois! O guardei tão bem que não consigo encontrá-lo! Mas, uma hora dessas, esbarrarei com ele.

Por ignorância, não dava valor a essas obras de arte!

Quando me aculturei, melhorei meu senso estético/de beleza, pelas leituras e pelas observações, pude prestar atenção na riqueza representada por estas pinturas, aparentemente singelas, simples.

Comecei a matutar e lembrei da única experiência que presenciei, lá pelos inícios da década dos anos 70, quando um "vendedor" desses maravilhosos trabalhos esteve no Bom Futuro, em Maraã, interior da selva amazônica.

Lembro que ele portava uma máquina fotográfica (hoje no ferro velho) e fotograva aquelas pessoas a serem retratadas com as roupas (ou sem elas) que elas estivessem vestidas, ou não, (com ou sem camisa, por exemplo, como era o caso do homem que acabava de chegar suado e sem camisa, apenas de calção, das matas após "cortar" seringa (retirar o látex da seringueira).

Ele fotografava, recebia um pequeno adiantamento do valor do futuro retrato e, meses   e até ano – depois aparecia com o retrato debaixo do braço, onde aquele homem ex-descamisado aparecia vestido em elegante paletó e aquela mulher de cabelos desgrenhados e vestido remendado aparecia aparecida vestida na mais pura seda, como uma princesa, com brincos de diamantes, colar de esmeraldas e batom nos lábios!

Era um verdadeiro milagre feito pelo homem-artista!

Eu me perguntava: como pode aquilo ter se transformado nisso?

A idade me respondeu: aquele cearense que aparecia para vender o trabalho e fotografar as pessoas voltada para sua terra e entregava os filmes para os "retratistas" (chamávamos também os fotógrafos de retratistas). Eles os revelavam e viam os rostos de seus clientes. E era somente disso que precisavam!

Punham a mão na obra e, não sei em quanto tempo depois, seus trabalhos estavam concluídos e o fotógrafo retornava ao Amazonas com os retratos agora emoldurados em belas molduras de madeira (que também são artes ímpares)!

Andava eu pesquisando onde encontrar um retratista! Perguntei a amigos cearenses sobre se conheciam algum, mas nenhum deles soube me informar.

Dia desses, ao ler um jornal, me deparei com um "fotoretrato" (como hoje se chamam, pela nova técnica, os retratos de então) dos “Tribalistas”, em cuja legenda constava o nome de "Mestre Júlio" como sendo o autor.

Ao consultar o google encontrei o mágico artista (vejam-no em: https://www.youtube.com/watch?v=DLA1CzUB3Fc)!

Não poderia ter ficado mais feliz!

Um dos meus sonhos é, comprar, na medida que as pessoas queiram vender, aqueles quadros que estão jogados e dos quais as pessoas querem se desfazer, pois tenho por eles uma admiração profunda.

Além do mais, espero que Mestre Júlio, ou outro artista de igual talento, faça um retrato meu com os meus filhos, no mesmo estilo daqueles que via nas paredes das casas humildes de Maraã e de todo o interior do Amazonas por onde andei.

 

Inté,

 

Fonte da foto: casal Waldemar Duarte Coelho (Pagão) e Raimunda Ramos Coelho, pela lente do Alexandre.