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Dia das mães! Dia da minha mãe! (2016).

 

Dia das mães!

Dia da minha mãe!

 

Falei faz poucas horas com a D. Rosa, que em alguns momentos tem ainda a lucidez que lhe abandou faz uns 12 anos!

Alegre e tristonha ao mesmo tempo, cobra minha presença em Manaus junto a ela ("Morro de saudades"!, me diz).

Aqui conto um pouco mais sobre nós dois: 

Prossigamos com uma piadinha:

Tchau, mãe! (171)

Tchau, Mãe! ...

Eu estava fazendo compras no SUPERMERCADO e uma velhinha me seguia pelas gôndolas, sempre sorrindo.

Eu parava para pegar algum produto, ela parava e sorria: uma graça a velhinha!

Já na fila do caixa, ela estava na minha frente com seu carrinho abarrotado, sorrindo:

- Espero não tê-lo incomodado, mas você se parece muito com meu falecido filho...

Com um nó na garganta, respondi não haver problema, tudo estava bem.

- Posso lhe pedir algo incomum? disse-me a senhora idosa.

- Sim. Se eu puder ajudá-la...

- Você pode se despedir de mim dizendo "Adeus, mamãe, nos vemos depois"? Assim dizia meu filho querido. Eu ficarei muito feliz!

- Claro senhora, não há nenhum problema, disse eu, para sua alegria. A velhinha passou a caixa registradora, se voltou sorrindo e, agitando sua mão, disse:

- ADEUS, filho!

Cheio de amor e ternura, respondi efusivamente:

- ADEUS, mamãe, nos vemos depois?

- Sim... nos vemos depois, querido!

Contente e satisfeito com o pouco de alegria dado à velhinha, passei minhas compras.

- R$ 758,93, diz a moça do caixa.

- Como assim?! Você está louca? Dois sabonetes e duas pilhas?

- Mais as compras da sua mãe! Ela disse que você pagaria...

- VÉIA FILHA DUMA ÉGUA...

Agora você entendeu porque chorei no final?

"sabe de nada, inocente"

Essa é top!

Mas deixe eu lembrar mais sobre D. Rosa, a rosa que enfeitou sempre a minha vida e a perfumará eternamente.

Minha mãe era funcionária pública. Trabalhava na Prefeitura Municipal de Maraã, onde ganhava um salário mínimo. De seu dinheiro abençoado ela tirava uma parte e me enviava para Manaus. Geralmente ela me mandava pelo próprio prefeito ou pelo Correio. Eis que chega em Maraã, pela vez primeira, o Bradesco e minha mãe começa a me mandar aquele mísero (para o banco) dinheirinho pela instituição bancária. Aí começou ou aumentou meu sofrimento. Eis que acontecia o seguinte: Chegava eu na agência bancária e, após o bom dia, entabulava o seguinte diálogo:

- Minha mãe mandou um dinheiro para mim. Veio de Maraã.

- Como é o nome dela? Perguntava a pessoa que me atendia.

- Maria Rosa Silva Barbosa, respondia eu.

Quem me atendia ia até um local onde fazia uma conferência e voltava com algo na mão e me dizia:

- Tem realmente uma ordem bancária, mas o nome da remetente é Maria Rosa Barbosa, não tem Silva não. Volte amanhã que nós vamos conferir.

Meu Deus, que ódio, que humilhação, que dor, que fome...

No dia seguinte a mesma coisa, só que, após confirmado o nome da remetente, o(a) atendente me perguntava:

- Qual o seu nome?

- Osório Silva Barbosa Sobrinho.

- Bem, aqui consta apenas Osório Silva Sobrinho, não tem Barbosa. Volte aqui amanhã que nós vamos conferir.

Só não tinha um infarto porque era muito jovem. Só não explodia aquela merda de banco porque não tinha meios, só não quebrava tudo por medo da polícia.

Assim, quase uma semana depois eu conseguia resgatar o que era meu.

O tal banco é um daqueles mágicos que existem no Brasil: consegue tirar dinheiro de pobre!

O que ele fazia: como na época o tal de over-night estava rendendo muito, ele ficava com o dinheiro de vários miseráveis que nem eu e o aplicava, ganhando, assim, às nossas custas!

Até hoje detesto o tal banco!

Uma grande decepção que guardo é a seguinte: minha mãe, que era funcionária da prefeitura de Maraã, e, na época, um tio meu era vice-prefeito, certo dia, ao chegar ao trabalho, ela disse aos presentes:

- Eu queria que vocês rezassem para o meu filho. É que ele vai fazer o vestibular para Direito e vai passar.

Ao que o fdp e bendito tio respondeu:

- Aquilo vai passar nada. Se meu filho, que é estudioso, até hoje não conseguiu passar, como é que aquele cachaceiro vai conseguir?

Fdp por que isso jamais deve ser dito para uma mãe esperançosa, que vê seu filho como último depositário dessa esperança por uma vida melhor, tanto própria como de sua família. Bendito por que, quando minha mãe contou o ocorrido, isso me renovou o ânimo para os estudos e passei a estudar cada vez mais, inclusive com a ajuda de remédio para não dormir (Reativan, creio). Por isso, após aprovado no vestibular, passei a agradecer também àquele canalha que com sua mesquinhez e insensibilidade tanto me incentivou. A ele, mesmo na desgraça, passei a ser grato. Que Deus, em sua ilimitada sabedoria, dê a ele o final merecido, uma vez que, de minha parte, só tenho a agradecer-lhe, pensei várias vezes assim.

- Pelo que dizes, és magoado com o teu tio! Espantou-se alguém para quem um dia contei isso.

- De jeito nenhum. Como te disse, respondi, ele me ajudou com o seu incentivo negativo. Assim, lhe sou muito grato, repito.

- Mas usas palavras muito duras para se referir a ele.

- Mas o coração é mole, e se usei tais palavras foi apenas para pontuar o meu estado emocional a época. Hoje, tudo é passado. Bola pra frente.

A bola andou e eu pude, felizmente, viver e vivo bons momentos ao lado da minha mãe. Viajamos por muitos locais e até alguns países enquanto ela podia fazer as coisas normais que uma pessoa faz por si mesma conscientemente (quebrou uma perna e esquece das coisas hoje em dia, como panelas "no fogo").

A vida me foi e é afortunada, mas ela teria sido vã e, até nem existido, não fosse a coragem e a confiança e a luta de D. Rosa, a quem tanto e eternamente agradeço por tudo, inclusive as correções com cinturão, pois elas, hoje vejo, também me ajudaram na vida.

Na pessoa de minha mãe, desejo a todas as mães dos meus amigos de facebook e de vida, muita saúde, pois, o resto, a gente consegue.

Beijos no coração de todas as mães, pois quem nos fez teve a sabedoria de escolher a quem deveria dar a maternidade.

Até mais,