Na China, não existe complexo de inferioridade colonial. Os intelectuais chineses que encontro em seminários internacionais sempre me impressionam porque, ao invés de olhar os EUA como nós, latino-americanos, de maneira agressiva ou então subordinada, os olham amavelmente, mas como iguais.
Não passa pela cabeça dos chineses "reconhecer" a superioridade intelectual do "Ocidente", e, a partir daí, aceitar suas recomendações de política econômica -recomendações que nós aceitamos, e que estão transformando o Brasil em uma grande fazenda.
A China foi, no passado, um grande império; depois que a Europa se industrializou, sofreu 100 anos de decadência econômica sob o jugo do Ocidente, porém, desde 1949, desenvolveu-se de maneira independente: primeiro, como sempre acontece nos países retardatários, com base no Estado, e, a partir de 1980, com base no mercado.
O segundo segredo da China é ter aberto a conta de mercadorias, enquanto rejeitava a abertura financeira.
O velho desenvolvimentismo defendia a proteção alfandegária que é útil na fase inicial do desenvolvimento, mas, como a China cedo compreendeu, o que interessa é competir com os países ricos na exportação de bens industriais, aproveitando-se de sua mão de obra mais barata.
Mas os chineses não querem saber de abertura financeira. Embora não esteja claro para eles que, nos países em desenvolvimento, há uma tendência cíclica à sobreapreciação da taxa de câmbio, sabem que mantê-la competitiva é essencial. Porque, para aumentar a taxa de investimento e de poupança interna, é fundamental que existam boas oportunidades de investimentos lucrativos para as empresas -e, para isso, a principal condição é uma taxa de câmbio equilibrada.
Para eles a abertura financeira não é uma fatalidade, algo para o qual "não há alternativa", como é para nós. É claro que é possível controlar as entradas de capital e manter a taxa de câmbio competitiva.
Eu sabia da força da nação chinesa, mas, desta vez, foi fascinante ver os milhares de chineses que todos dias enchem a praça Tiananmen para ver o corpo embalsamado do líder de sua revolução nacional, Mao Tse-Tung. Há 32 anos, não era assim; eles não tinham dinheiro para fazer esse turismo cívico que, para nós, é estranho.
Não há, porém, nada de estranho na capacidade da China de competir com o resto do mundo. Terá o Brasil capacidade de reagir e também competir? Ou vamos nos conformar em ser um país agropecuário moderno que cresce, mas com instabilidade e a taxas muito menores do que as chinesas?
Fonte: FSP, 24.04.11
Comentário do blogueiro: vendo as duas exposições, será que cabe perguntar: quem não usa óculos?
Mas a melhor pergunta: que preço se deve pagar pelo tal de progresso? Progresso para quem?
Capitalismo totalitário! Esse é bom <: (este é o sinal de ironia, que inventamos), pena que o Bresse-Perreira e seus acólitos não vão para lá!
"As comparações entre o capitalismo e o socialismo costumam equiparar erroneamente o capitalismo ao mercado livre e o socialismo ao planejamento econômico centralizado e ao TOTALITARISMO. Embora compartilhe grande parte da sua ideologia com o LIBERALISMO clássico, o capitalismo não é incompatível com governos autoritários. Na Itália e na Alemanha, sob o FASCISMO, na Argentina de Perón e na Indonésia de Sukarno e Suharto, por exemplo, a empresa privada coexistia com o implacável controle político e os vários graus de propriedade estatal e planejamento centralizado." (Fonte: Chris Rohmann. O livro das idéias. Editora Campus, Rio de Janeiro: 2000, p. 56.).