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Origens do mecenato e do mercado de arte

O termo mecenato foi atribuído em alusão ao romano Caio Mecenas (68 a.C — 8 a.C), conselheiro do imperador Otávio Augusto (herdeiro adotivo de Júlio César), que protegeu e sustentou um círculo de intelectuais e poetas, incluindo Horácio e Virgílio, e transformou-se em modelo para vários governos.

 

A prática se popularizou no período Renascentista, que vivenciava um momento de pujança econômica com o surgimento da burguesia. Michelangelo, Rafael, Caravaggio, Bernini, Rembrandt, entre outros artistas, beneficiaram-se do sistema de mecenato.

Nesse período, a arte visual era utilizada para o ensino dos fiéis — que eram, em grande parcela, analfabetos. Por outro lado, a burguesia — como grupo menos tradicional — buscou a promoção social através da arte e forneceu apoio financeiro aos artistas e pensadores. Entre os mecenas estavam papas, bispos, políticos e colecionadores de arte.

 

De acordo com o crítico Simon Schama, autor de O poder da arte (2010), uma das questões mais importantes abordadas pelo Concílio de Trento, em sua parte final em 1561-1563, foi o papel da pintura sacra como inspiração para os fiéis adorarem, venerarem e obedecerem. "Instintiva e intelectualmente, os padres da igreja sabiam que, como a vasta maioria dos europeus era analfabeta, as imagens constituíam a maneira mais poderosa de instruir as massas e preservar sua lealdade".

 

Ao banir as imagens das igrejas por julgar que infringiam o segundo mandamento, a Reforma protestante operara uma revolução no mundo das artes. O tradicional patrocínio dos príncipes e nobres cedia lugar ao primeiro mercado de arte popular. E foi Rembrandt que aproveitou o bom momento, apresentando-se na história como um empresário e investidor, além de pintor.

 

De acordo com a historiadora Svetiana Alpers, autora de O projeto de Rembrandt — o ateliê e o mercado (2010), o pintor construiu a si mesmo como uma marca distinta, capaz de ser negociada como mercadoria. "Na condição de mestre do seu ateliê, afirmou sua liberdade individual e soube livrar-se da dependência de mecenas e patrocinadores. Rembrandt não foi apenas um homem de ateliê, também foi um homem de mercado. O valor é uma construção social ou humana produzida num sistema de relações ativado pelos desejos humanos", disse.

 

A noção de valor na arte — seja atribuída pelos mecenas seja pelo mercado —tem uma longa e complexa história. Mas, para isso, basta lembrar de uma frase do pintor italiano Gian Lorenzo Bernini (1598-1680): "Quem nunca ousa quebrar as regras, nunca as supera".

 

Fonte: Revista da Cultura, edição de outubro de 2011, publicação da Livraria Cultura, São Paulo, p. 41.