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Você conhece quem foi a Madre Teresa de Calcutá?

(tem gente que diz que não foi bem assim)

 

SANTA DE PAU OCO?

 

 

Não estava brincando ou cometendo uma hipérbole quando, há duas semanas, ao puxar as orelhas do Galvão Bueno, levantei dúvidas sobre a ilibada reputação de Madre Teresa de Calcutá. Vamos deixar tudo bem claro, desde o início: embora não simpatizasse com seu conservadorismo (para ela, a maior ameaça à paz mundial era o aborto e este e o controle da natalidade se equivaliam do ponto de vista moral), não fui eu quem questionou a reputação da cultuada freira albanesa, morta há quase dois anos e já em vida tratada como santa. Ou, no mínimo, como um anjo especialmente enviado por Deus para dar conforto e esperança aos que não têm onde cairem mortos. Quem o fez foi um jornalista britânico radicado em Washington, Christopher Hitchens, que nunca foi um porra-louca ou fanático hagiômaco.

 

É possível que você já tenha lido algumas de suas excelentes reportagens políticas na “Vanity Fair” e, se mais exigente, sua coluna “Minority Report” no semanário “The Nation”. Mas não, tenho quase certeza, os seus livros, que, aliás, não são numerosos, sendo o melhor deles justamente aquele que jogou lama no imaculado burel de Madre Teresa.

 

O melhor e mais corajoso e não por acaso, o mais explosivo e polêmico. Seu título, The Missionary Position: Mother Teresa in Theory and Practice, é um jogo de palavras. Missionary position (literalmente, a posição missionária ou de missionário) também quer dizer trepar na posição tradicional: a mulher deitada de costas e o homem por cima. Nem é necessário ler o livro para entender o sentido último de seu título. Segundo Hitchens, Madre Teresa, em vez de ajudar, fodeu com seus doentes supostamente protegidos por ela. Daí tê-la apelidado de the ghoul of Calcutta. Certos espíritos maléficos e pessoas de tedências necrófilas são chamados de ghouls na Inglaterra. Madre Teresa teria, nas palavras de Hitchens, promulgado “um culto baseado na morte, no sofrimento e na submissão” – e por conta disso deveria ser, não canonizada, mas processada por crimes contra a humanidade. Intrigado pelo desembaraço com que ela se relaciona com ditadores e milionários da pior laia e a silenciosa cumplicidade mídia em torno disso, Hitchens rastreou os caminhos percorridos pelas enormes somas de dinheiro destinadas a Madre Teresa por indivíduos e instituíções e não encontrou uma só clínica nem hospitais erguidos ou financiados com aquelas doações, apenas conventos e mais conventos abertos ou custeados pela religiosa. O primeiro e maior interesse dela, Hitchens acusa, não era prover tratamento médico e hospitalar a necessitados do Terceiro Mundo mas expandir a doutrinação católica e tornar-se a mais na Santa Teresa canonizada pelo Vaticano.

 

Em outro livro, mais recente e tampouco lisonjeiro, Mother Teresa: Beyond the Image, Anna Sebba revela que ela não usava análgésicos eficazes e, ao utilizar remédios contra tuberculose sem monitoramento dos pacientes, muito contribui para agravar a doença e torná-la epidêmica.

 

Comandando, segundo Hitchens, “uma operação missionária multinacional impossível de ser auditada”, Madre Teresa andou pelo Haiti durante o sanguinário regime Duvalier, onde foi condecorada, e anunciou aos quatro ventos que os Duvaliers eram “amigos dos pobres”, tornando-se depois amiga de cabeceira da viúva do ditador. Além de conviver e também aceitar doações do magnata da imprensa Robert Maxwell, malvisto até por seus pares, ela se prestou a lavar 1,25 milhões de dólares roubados a milhões de modestos poupadores pelo banqueiro Charles Keating e ainda o mimoseou com um crucifixo, naturalmente bento, quiçá pelo Papa. Madre Tereza chegou a pedir clemência para Keating, que cumpre pena na Califórnia. O juiz Lance Ito, porém, não se comoveu com a alegação de que o banqueiro também é “um amigo dos pobres”. O promotor público de Los Angeles Paul Turkey, a quem a religiosa também recorreu, sugeriu por carta que ela primeiro devolvesse toda a grana doada por Keating aqueles a quem ele havia fraudado.

 

Madre Teresa jamais respondeu ao promotor. “Ela sempre pregou indulgência para os ricos e sacrifício e resignação para os pobre”, acusa Hitchens. “Não faz muito, liderou uma campanha na Irlanda contra a instituição do divórcio no país, mas aprovou publicamente o da Princesa Diana, sua amiga”.

 

Na fila para ser beatificada pelo Papa João Paulo II – que já canonizou cinco vezes mais santos do que todos os seus predecessores neste século – Madre Teresa terá seu currículo apreciado por um tribunal de três membros já apontados pelo arcebispo de Calcutá, Henry D’Souza. Segundo o “Sunday Times”, o Vaticano está atento e preocupado com as denúncias feitas contra a atuação da religiosa, sobretudo com a hipótese de que ela tenha servido de “camuflagem espiritual” para ditadores e argentários inescrupulosos. Os resultados do inquérito em Calcutá serão enviados à congregação do Vaticano encarregada de apontar quem merece ou não a santidade, após consulta a doutores, teólogos e cardeais da Igreja. Cá entre nós, nada disso estaria acontecendo se a Igreja já tivesse reconhecido a categoria santo de pau oco.

 

Fonte: Sérgio Augusto (Revista Bundas, nº 9, de 10 a 16 de agosto de 1999).

 

Pergunta do blogueiro: por que esse jornalista pega tanto naqueles santos pezinhos? Você sabe algo a respeito? Eu nunca fui com a cara do tal Hitchens. Aliás, nem com a dela! Melhor sair para o campo...