Bom dia Porto Alegre, Bom dia Curitiba, Bom dia São Paulo, Bom dia Rio de Janeiro, Bom dia Salvador, Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Bom dia a todo mundo. Hoje não tem que lembrar de um ou de outro, hoje tem que lembar de todos, porque todos rigorosamente todos, não há brasileiros que não esteja absolutamente mobilizado, envolvido, apaixonado, chocado, tocado pelo que está acontecendo em nosso país de norte a sul e de leste a oeste.
Mais de cem cidades, bem mais de cem cidades viveram manifestações ontem, algumas reunindo dezenas, centenas de milhares de pessoas que para as ruas foram novamente com os mais variados propósitos se você quiser analisar rigorosamente tudo e rigorosamente todos, as razões dessa mobilização ontem foram diversas, algumas até criminosas é óbvio que sim, mas a essência, a energia, a causa central, o coração e a mente que colocou esses milhões nas ruas definitivamente não foi o que as manchetes estão colocando hoje como prioridade, nem o que as imagens da televisão vão começar a mostrar, trombetear exaustivamente ao longo do dia, inclusive a BAND.
As pessoas não foram para rua ontem para quebrar o Brasil, para destruir o Brasil , para incendiar o Brasil. Milhões de pessoas não foram para rua ontem para roubar par de tênis em lojas, para quebrar placa de rua, pra danificar vidro de prédio público. Milhões de pessoas do Brasil não foram para as ruas ontem para cometer nenhum tipo de delito, nenhum tipo de crime, nenhum tipo de invasão, nenhum tipo de maldade, nenhum tipo de dano. O Brasil foi pras ruas ontem para fazer-se mais auto-ouvir-se ainda o grito, a voz, o clamor quase desesperado por mudanças tão necessárias, tão urgentes, tão profundas, tão sinceras que nem mesmo verbalizá-las boa parte de nós conseguimos. É curioso que eu tenho me cobrado e cobrado das pessoas que me ligam, muitos deles eventualmente até participando diretamente dos movimentos até da organização de alguns movimentos, da mobilização de alguns movimentos desses e tal e eu vinha me perguntando esses dias, mas cade as propostas, cade as propostas, cade as propostas? E me dei conta de duas coisas: primeiro talvez estejamos exigindo de quem quer dar um grito de desespero um discurso lógico e não uma razão. A razão tá com eles, é sincera e precisa ser entendida. O discurso lógico talvez também esteja numa certa medida, mas talvez seja tão amplo, alcance tantas coisas,batem tantas coisas distintas e tantas coisas diferentes que talvez não caiba numa lista, num enunciado, num discurso organizado. Talvez o que se tenha que captar disso aí, fruto de sua energia, é o sentimento é uma palavra de ordem é uma palava síntese. O sentimento acho que é: “não aguento mais”. Não aguento mais os partidos, não aguento mais os políticos, não aguento mais os deputados, os senadores, os ministros as autoridades, não aguento mais o Estado Brasileiro, naquilo em que ele se transformou propriedade privada e exclusiva daqueles que ocupam o comando do Governo e das Casa Parlamentares. O Estado Brasileiro não faz saúde pro povo, não faz educação pro povo, não dá transporte pro povo, não dá segurança pro povo. Exatamente por que é um Estado que dá tudo isso para aqueles que o tomaram conta, seus associados e seus financiadores, seus subornadores se é que a palavra existe. Chegar nas ruas e dizer qual é a proposta? O cara vai gritar! O cara vai gritar! Pergunta pra um afogado no desespero do naufrágio qual é a lógica da natação olímpica? Ele vai gritar socorro, ele vai gritar me salva. Ele vai te agarrar e morrer afogado junto. Ele não vai fazer uma análise do afogamento. Tá se pedindo a uma bomba atômica depois de explodir que direcione racionalmente sua energia fantástica, antes que ela flua para onde quer. O que nós estamos vendo ai é essa energia que explodiu no povo brasileiro, na sociedade brasileira, fluindo para onde quer, sem dono, sem lógica, sem direção, e é bom que a gente deixe ela se esgotar. É bom que a gente passe a perceber que ela é muito mais ampla, enormemente majoritário, uma energia pacífica, positiva, gregária, generosa, transformista. Ficar hoje batendo lata em cima do que se quebrou, das placas arrancadas, das vidraças quebradas, é querer reduzir a isso aquilo. É querer criminalizar esse grito, essa energia. Olhem para as imagens de tomadas aéreas sobre o que vem acontecendo ontem ou nos últimos dias e vejam se elas encaixam nos pequenos fragmentos de destruição . Sim senhores pequenos, ou vocês acham que se aquela energia toda estivesse direcionada para a destruição nós estaríamos aqui batendo esse papinho matutino? Ou se vocês acham que os milhões que estão na rua, estivessem na rua para destruir, para quebrar vandalizar, para roubar nós estaríamos aqui batendo esse papo? É claro que não! É claro que se você tem um jogo de futebol as vezes contra um time estrangeiro, portanto só uma torcida brasileira num estádio meu caro Barão, e na saída do estádio tem quebra quebra, tem vandalismo, tem saque a lojas. Existem eventos festivos, o Show da Madonna, se sair pela culatra um pedacinho do show você tem porradaria, você tem vandalismo, você tem confusão, você tem coisa quebrada.
Experimenta fazer esse eventos com dois três, um milhão de pessoas. Um reveillon no Rio de Janeiro, de vez em quando não tem lá um quebra quebra? Não matam gente? Quantas pessoas morreram até agora? R: Uma. Em que? R: Atropelamento. Sabem quantos atropelamentos tem por dia no Brasil ? Setecentos milhões! Aí querem pegar aquele atropelamento que foi lá em Ribeirão Preto que foi um louco lá que entrou em pânico e meteu o carro em cima da multidão. Teve um passeio de ciclista em Curitiba ou em Porto Alegre que mataram quantos? Quantos? Todo dia sobre carro em cima de calçada com bêbado a bordo matando grávida com bebê no colo, idosa em cadeira de rodas. Então, a “invadiram a loja e queimaram...” eu to vendo as imagens numa emissora aqui e só mostra depredação. Tá a quinze minutos mostrando só depredação. Quer dizer que o Brasil foi pra rua ontem pra depredar, gerar imagens, manchetes que falem disso, sucessivamente disso. Eu quero saber o seguinte: não há propostas! Mas não há propostas não é porque não exista o anseio de mudanças que propostas eventualmente produziriam. Tá bom, o povo na rua não tem proposta e os governantes nos salões refrigerados tinham ? E a proposta era essa merda que tá aí no país?
Então, só para eu entender, estão exigindo de uma população que ficou de saco cheio e foi pro pau, foi gritar, protestar. Tão exigindo que ela apresente uma bula. Bom pra consertar o Brasil vocês façam assim dois mais dois quatro, vire para direita depois suba, acorda as seis da manhã vá pro trabalho, ajeite a gravata, não sei o que, não solte pum...Haaa assim...pois não sei manifestante, pois não senhor povo exausto, pois não povo saturado, enojado, cansado, pois não senhor povo é isso que o senhor quer? É só isso que a gente quer! Se eu perguntar aqui do lado de lá...e vocês ai no ar refrigerado ? E vocês ai nos seus carrões? E vocês ai com seus salários em dia, com sua estabilidade funcional ? E vocês ai com suas imunidades ? Com seus auxílios residência, com seus auxílios não se i o que ? Com suas obras superfaturadas ? Que projetos vocês tinham ? Qual é pra valer a sério o projeto que vocês estão botando em curso no Brasil além de se locupletarem com isso?
Então, tão querendo que o povo produza uma solução escrita de curto prazo que de rosto, que enquadre a energia que tá liberando nas ruas. Quando os governantes, os políticos, que aliás enfiaram os rabos entre as pernas. Cadê essa gente? O máximo que a maior autoridade do país fez diante disso tudo foi cancelar uma viagem ao Japão. Só faltava essa, com o país desse jeito, madame pegar o avião e colocar toda aquela turma que sempre acompanha ela quando ela vai pra país legal encher o avião de muquirana e viajar. Só faltava essa.
Cadê os senhores Senadores e senhores deputados ? sempre dispostos a botar a cara na mídia, pegar uma lasquinha da mídia. Cadê sumiram/ Bateram em retirada. Não tem um pilantra com a coragem de meter a cara e dizer: olha aqui amanhã vou fazer e acontecer. Nada, zero. Não digam que não é perceptível alguma coisa lá. Mesmo racionalmente falando. Tem lá algumas coisas. Tem a tal da PEC 37. Tem o tal do projeto para criminalizar de forma hedionda os casos de corrupção em saúde e educação. Tem ali um reco reco bolão e azeitona que se tivesse alguém no balcão do governo pra cuidar de alguma maneira já teria dito algo. Eu não acho que dizendo algo neutralizaria o que tá acontecendo aí. Isso aí é um Tsunami que vai cumprir um papel histórico até o fim. Até ficar só aquela espuminha na beira da praia. Essa onda vai vir, vai varrer o que tiver que varrer, vai fazer o seu papel, vai fazer cumprir a sua página histórica, depois vai decantar e ai vai deixar as lições necessárias, mas agora querer reduzir isso ao que eu estou vendo na televisão? Agora eu to vendo uma emissora de televisão – não vou falar o nome porque senão vão dizer que eu estou incitando – e talvez a Band repita o mesmo erro e o SBT e a Record e todo mundo. Mas o fato é o seguinte: é quase uma canalhice, a cobertura do que aconteceu ontem não pode ser desvirtuada, nem o fato não pode ser reduzido ao vandalismo, ao quebra quebra aqui e ali que houve. (...) quando vem um show da Madonna, aquela avó pelada, não tem uma pancadaria? Carnaval não tem morte? (...) cento e tantas cidades, milhões e milhões, daí é claro que tem vagabundo, malandro, ou vocês acham que os bandidos do Rio Janeiro que assaltam em engarrafamentos, nós aqui vemos o dia inteiro arrastões em engarrafamentos..no meio de um sururu daquele não vai ter um arrastão, não vai ter quebra quebra, não vai te ruam explosão, briga de facção. Eu tô impressionado e grato ao destino, por termos até agora dez dias de manifestações com milhões e milhões e milhões de pessoas nas ruas repito, não tem um morto, não tem sequer um ferido grave, não tem um amputado. Nós estamos diante de um povo pacífico, absolutamente pacífico, ordeiro, gentil. Tudo que a gente fala do brasileiro, jamais teve uma prova tão cabal de sua índole. Agora querer pegar o que tão fazendo e botar....pega meia dúzia de malandro, quebraram a loja do seu Joaquim pra roubar meia dúzia de marmita e transforma isso na manchete do fato? Por favo, por favor. Querem cobrar propostas racionais? Cobrem dos governantes! Nunca o fizeram. Querem cobrar ponderação? Cobrem dos governantes. Cadê os governantes? Cadê a interlocução?
Outra coisa só pra finalizar. Tem muita imagem de gente querendo invadir palácio, prefeitura, palácio do governo e aí o coro come a polícia reage de forma mais....parentese aqui pra dizer o seguinte: de todos os centenas de telefonemas, mensagens, talvez milhares que eu recebi na tarde de ontem, na noite de ontem, de madrugada, nada foi tão uníssono quanto a crítica a polícia do Rio de Janeiro. Não sei qual é a visão não consegui ainda me certificar, ouvir mais, vou ainda para o Rio para fazer o programa a partir das nove horas, nove e pouco, mas muita reclamação, muita denúncia, muita crítica da truculência da polícia do sr. Seu Sérgio Cabral. Tá demais.
Mas eu tava dizendo, só pra encerrar das imagens que nós vemos sobre tentativas de invasões dos palácios, eventualmente com pedrada na janela, quebra de um equipamento, coquetel molotov etc e tal.. se por um lado eu criminalizo as minoritárias, minoritariazíssimas, minoritárias atitudes criminosas, de vandalismo contra equipamentos públicos, contra pontos de ônibus, mas principalmente contra o bem privado, contra a lojinha do cara, banca de jornal, canalhice, contra o carro do cara e tal, isso é canalhice, coisa de vagabundo, coisa de criminoso que tá aí pra fazer isso sempre. Vai fazer enquanto tiver a manifestação e vai fazer enquanto não tiver manifestação. É só olhar os índices criminais. Mas isso pra mim é uma coisa e a tentativa de invasão dos palácios e prédios públicos é outra. Em todas as revoltas populares que o mundo conheceu até hoje e em especial em todas as revoluções, os palácios foram espaços visados pelos revoltosos e pelos revolucionários, porque representam em tijolo, vidro a cidadela, o poder. Então tentativas de invasão Itamaraty, Prefeitura não sei de onde, Palácio do governo não sei de quem e tal , embora também se preste a essa cobertura criminalizante, essas tentativas – não estou entrando no mérito se sou a favor ou se sou contra, vou me poupar desse palpite num momento desse – mas elas são legítimas e são políticas. Elas não são o incêndio da banca, não são tênis roubado, não são a depredação do sinal público, então também é preciso fazer essa distinção. Quando milhares de pessoas se aglomeram na frente de uma prefeitura que abriga no seu dia a dia o seu prefeito que fez um acordo com os donos de ônibus para levar a campanha e por isso lhes deu aumento maiores do que tinha que dar ...essa invasão tem esse simbolismo, essa marca, essa característica. Tô entrando dentro da sua casa pra gente falar a olho a olho na sua cara e não adianta o vice-presidente da câmara dos deputados para atender a população por que chega lá dentro e eles perguntam o qeu vocês querem e daí eles falam: eu quero falar com o dono.
Olha bem vindo Brasil às ruas que te pertencem.
Bem vindo Brasil ao mundo dos que não aceitam calados os absurdos, aí sim, os crimes, aí sim, o vandalismo, aí sim, a violência, aí sim, daqueles que nos governam. Vândalo pra valer no Brasil tem imunidade faz orçamento, assina contrato de concorrência, nomeia compadre são verdadeiros vândalos. Esses sim são vândalos pra valer e esses sim precisam saber que se o jogo não acabou, pelo menos mudou, ainda bem. Vamos lá.
Fonte: <HTML><META HTTP-EQUIV="content-type" CONTENT="text/html;charset=utf-8"><P><A href="http://bandnewsfm.band.uol.com.br/Noticia.aspx?COD=669727" rel=nofollow target=_blank>http://bandnewsfm.band.uol.com.br/Noticia.aspx?COD=669727</A></DIV>_