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9 – O que é um sofista?

Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

9 – O que é um sofista?

 

O que você conhece sobre os Sofistas gregos?

Você conhece ou apenas ouviu dizer?

Que material (escritos) deles você já leu?

Que autores você leu que falem sobre eles?

Você sabe o que é um “sparring”? Um “saco de pancadas”? Um “escada”?

Nas lutas de boxe, o sparring é o pugilista que entra no ringue apenas para apanhar! Ele não pode ganhar! Ele é feito/existe para apanhar de seu adversário.

Aquele que é considerado “saco de pancadas” é o que apanha, também, de todo mundo. É aquele que tanto apanha como dão nele!

Nos espetáculos de humor o “escada” é aquele que faz a pergunta idiota que ninguém faz ou faria para que o mocinho feche com chave de ouro e ele fique sendo o idiota.

Pois é, se você não conhece os Sofistas, saiba que eles podem ser tidos, justamente por você não os conhecer, como “sparrings”, “sacos de pancadas” e “escadas” dos filósofos! Tudo isso por você, de boa-fé, acreditar no que Platão e Aristóteles, especialmente, dizem sobre eles, por ainda não ter tido oportunidade de procurar compreender as razões pelas quais tais filósofos batem tanto neles, inclusive eles continuam apanhando dos ditos pensadores atuais, que são meros repetidores daqueles dois homens, enquanto os Sofistas mudaram a história do pensamento no Ocidente.

Você não encontra nada, ou encontra muito pouco do que eles disseram ou escreveram? Isso é realmente uma lástima, mas não se preocupe em demasia com isso, pois seus próprios detratores se encarregaram de preservar muita coisa do que eles condenam! E o melhor, num golpe de sorte, os sectários não queimaram os livros de Platão e Aristóteles, pois, hoje, se soubessem o resultado que a sobrevivência dessas obras implicaria, certamente teriam dado fim a todas elas, como fizeram com as obras Sofísticas.

Assim, foi a partir da leitura daqueles que combateram (combatem) os Sofistas que passamos a conhecê-los melhor e a entender os seus inquietantes e frutíferos pensamentos, fazendo um caminho inverso, ao contrário do que fazemos na leitura ordinária! Assim é que entendemos que: “se Platão e Aristóteles defendiam a escravidão, é porque alguém as condenava”! Ninguém precisaria defender aquilo que não se condena. E sabem que condenava a escravidão? Isso mesmo, os Sofistas!

Que eles passaram como um furacão (atualmente seria um tsunami) não resta dúvida, pois destruíram os pilares de todo pensamento que mantém a sociedade: política, deus, saber etc.!

Mas só destruíram, então!?

Não!

Mas se eles destruíram é por que esses pilares eram frágeis, logo, não mereciam permanecer!

Mas eles, mesmo tendo destruído, não deixaram atrás de si um rastro de destruição! Eles fundaram tudo de novo, só que agora em bases mais sólidas, como são aqueles edifícios que têm molas em seus pilares e que quando dos terremotos, balançam, mas não caem!

Tanto isso é assim que ainda hoje, século XXI, os ensinamentos sofísticos estão por toda parte sendo aplicados no dia a dia e combatidos também, sem que esse combate, com todas as poderosas armas da atualidade, tenha sido vencido por seus detratores, antigos e modernos, deixando, com isso, “um gosto amargo na boca” daqueles que investem contra a muralha construída por aqueles homens a partir de uma argamassa que parece indestrutível e que pode ser chamada de coerência!

Este livro, portanto, é apenas um aperitivo, um convite para você conhecer os Sofistas e tirar, por você mesmo, as conclusões a que chegar, sem aqueles intermediários que já condenam os Sofistas de saída, pelo simples fato de serem quem foram, não lhe mostrando a riqueza que eles deixaram como contribuição inestimável ao conhecimento humano, ou suas possibilidades.

A modernidade manteve e aprofundou um ensinamento muito interessante para todos e que sempre deve ser considerado, em qualquer situação: “não julgue sem antes de conhecer os fatos”.

Assim, você tem duas oportunidades, a partir daqui: (a) seguir condenando os Sofistas sem conhecê-los ou (b) conhecê-los para depois, tirando suas próprias conclusões, condená-los, se for o caso.

Relembre que não se atira pedra em árvores que não dão frutos!

Vamos em frente?

Boa caminhada.

Poderíamos iniciar uma tentativa de resposta para as perguntas que formulamos acima com a famosa frase de Lavoisier: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.

As palavras também têm vida e, se têm vida, participam do movimento natural de todas as coisas, do “eterno fluir”, e, sendo assim, passam por constantes modificações de significados nos seus usos ao longo da história.

Muitas palavras, que hoje têm determinado sentido, num momento posterior, passam a significar o seu oposto.

Em Portugal, por exemplo, uma mulher jovem é rapariga. No Brasil, que também fala a língua portuguesa, em algumas regiões (no Norte, por exemplo) rapariga é sinônimo de meretriz!

O que é um sofista?

Sofista vem da palavra grega sophós, que significa sábio!

Homero, Péricles, por exemplo, eram sofistas! Eram sábios.

O evolver dos tempos transformou o sofista num enganador, mentiroso, embusteiro etc.

Ou seja, osignificado da palavra foi de um extremo a outro!

No caso dos sofistas gregos do século V a.e.a a situação é mais curiosa, pois alguns, tidos por seus contemporâneos como sofistas, irão ser separados, à bisturi, do grupo que reuniu todos eles e deste excluído será retirada a pecha que ficou apenas para os demais que não tiveram advogados tão dedicados. É o caso por exemplo, de Sócrates!

A palavra sofista, que não sabemos quem a criou, mas que ainda é usada, sofreu o processo de transformação de que fala o estudioso francês.

Desde que se tem notícia, o “termo sofista, do grego sophía (σοφία), "sabedoria" e sophós (σοφός), "sábio" é o nome dado na Grécia clássica, daquele que fazia profissão de ensinar a sabedoria. Sophós e Sophía em suas origens denotavam uma especial capacidade para realizar determinadas tarefas como se reflete na Ilíada (XV, 412). Mais tarde atribuía-se a quem dispunha de inteligência prática e era um experiente e sábio em um sentido genérico. Seria Eurípedes quem acrescentar-lhe-ia um significado mais preciso como "a arte prática do bom governo" (Eur. I. Á.749) e que foi usado para assinalar as qualidades dos Sete Sábios da Grécia. No entanto, no decorrer o tempo teve diferenças quanto ao significado de sophós: por uma parte, Ésquilo denomina assim aos que dão utilidade ao sabido, enquanto para outros é ao invés, o sendo quem conhece por natureza. A partir deste momento criar-se-á uma corrente, que se aprecia já em Píndaro, que dá um significado despectivo ao termo sophós o assimilando a "charlatão".

Já na Odisseia, Ulisses é qualificado de sophón como "engenhoso". Pelo contrário, Eurípides atribui à sophía "rapidez" e ao sophón "sabedoria", tratando com isso de diferenciar a intensidade e grau de conhecimento das coisas que têm respectivamente os homens e os deuses. (Fonte: http://pt.encydia.com/es/Sofista, em: 07.02.16).

Platão será, contraditoriamente, contudo, o maior deturpador do termo, seguido por seu discípulo Aristóteles, sendo que ambos trilham caminho aberto por Aristófanes na sua peça “As nuvens”, como veremos mais adiante.

Aristófanes desdenha dos sofistas, tudo leva a crer, para galhofar deles e por acreditar em sua galhofa, especialmente pelos perigos que estes apresentavam para sua classe e seu status conservador.

Aristóteles combaterá TODOS os sofistas.

Platão é o ambivalente.

Conheçamos os sofistas, cuja má fama é injusta, pois eles prestavam serviços à sociedade e preocupavam-se em nos mostrar o enorme poder das palavras sobre nossas almas. Foram os sofistas os primeiros pensadores a refletirem sobre a linguagem, pois Hesíodo, embora dela tenha feito uso, sobre ela não refletiu; de fato, eles não eram inimigos dos filósofos, mas seus adversários no plano das ideias.

Tão acidamente são criticados os sofistas que muitas vezes nos parecem quase criminosos. Nada mais longe da realidade. Muitos deles serviram às suas cidades como embaixadores, outros construíram ou reconstruíram templos e, com seus próprios recursos, reformaram prédios públicos.

Alguns que exerceram o cargo de embaixador: Górgias, embaixador de Leontinos em Atenas; Pródico, embaixador de Céos em Atenas. [Osório diz: este simples fato mostra que eram homens proeminentes, pois ninguém, em sã consciência, escolhe homens inexpressivos para embaixadas, importantes ou não, pois em todas elas está em jogo o prestígio do país que o escolheu].

Houve, na Antigüidade, dois grandes movimentos sofísticos: um no período clássico e outro, no período helenístico. O primeiro movimento (a primeira sofística) tem como representantes Górgias de Leontinos, Protágoras de Abdera, Pródico de Céos, Trasímaco, Antífon e Hípias, entre outros. Essa sofística, na verdade uma “retórica filosofante”,como define Filostrato, distingue-se da Filosofia pelo modo de argumentação e de investigação.

A segunda sofística tem como representantes Ésquines, Nicetes, Scopelian, Iseus, Herodes Ático, Hermógenes de Tarso e Aristides, entre outros.

Por isso, e setecentos anos de separação, esses dois movimentos não devem ser confundidos.

Os sofistas surgiram num momento em que era indispensável aos gregos falar bem para chegarem aos cargos de direção da sociedade; eles foram os primeiros pensadores a refletir sobre as palavras e seu poder sobre as almas dos homens. Por isso, a sofística é uma “retórica filosofante”: pensando a linguagem, descobriram o enorme poder das palavras e quão facilmente os homens se deixam enganar por elas. Os sofistas não pretendiam enganar os homens, como em geral se pensa, mas investigaram as razões pelas quais um discurso é convincente e outro não, e sobre isso ensinavam mediante a cobrança de honorários, como os professores atualmente o fazem. Sócrates (ou Platão?) criticava essa cobrança de honorários, por considerar que a atividade filosófica deve ter como centro a amizade e não o comércio. Condenação que era muito confortável para Platão, pois pertencia a uma rica família grega, já Sócrates recebia seus “honorários” com outro nome, como se o nome mudasse a natureza das coisas: presentes, convites para banquetes.

Ao contrário do que se pensa, os sofistas não eram inimigos dos filósofos, nem os filósofos eram inimigos dos sofistas: eram sim adversários no plano das ideias. Como pensavam e tratavam de muitos temas comuns, dialogavam e discutiam sobre esses mesmos temas. Assim, há vários diálogos de Platão que têm como título nomes de famosos sofistas (por exemplo: Protágoras, Górgias, Hípias): nesses diálogos, Platão discute as ideias dos sofistas e as tenta rebater, apresentando as suas próprias. (https://ri.ufs.br/bitstream/123456789/764/1/MiscelaneaSofistica.pdf.)

Sofistas apesar de o termo ser empregado originalmente, em relação aos homens sábios, foi aplicado por Platão a vários professores que desaprova, entre eles Protágoras, Górgias, Trasímaco e Hípias de Elis. Platão trata-os em geral como charlatães que falavam unicamente para alcançar a vitória [Osório diz: seria extremamente difícil terem alunos se falassem para alcançar a derrota!], ganhando dinheiro com o ensino dessa técnica. Na verdade, a atitude geral dos sofistas não parece ter sido muito diferente da de Sócrates, mantendo ambos uma posição razoavelmente cética em relação às cosmologias especulativas, tais como as dos eletatas, e uma insistência também razoável no estudo dos fundamentos da moral e da epistemologia. (Simon Blackburn, Dicionário Oxford de Filosofia, Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 1997, p. 366).

Não uma, mas duas barreiras se levantam no caminho de quem quer que busque chegar a uma compreensão adequada do movimento sofista na Atenas do Século V a.e.a. Não restaram escritos completos de nenhum dos sofistas e temos de depender de fragmentos insignificantes e de sumários muitas vezes obscuros, ou discutíveis, de suas doutrinas. Pior ainda, dependemos, para grande parte de nossa informação, de Platão, que os tratou de maneira profundamente hostil, com todo o poder de seu gênio literário, acertando-os em cheio com um impacto filosófico quase arrasador. O efeito acumulado tem sido bastante desastroso. Levou a um tipo de opinião pronta segundo a qual é de duvidar se os sofistas, como um todo, tenham contribuído com algo de importante para a história do pensamento. Seu maior valor, diz-se freqüentemente, foi simplesmente o de terem provocado sua própria condenação, primeiro por Sócrates e depois por Platão, ou por ambos, já que se confundem. Em todos os pontos essenciais dessa disputa, Platão é quem foi considerado certo, e os sofistas, errados. Mesmo a reação contra Platão, daqueles para quem Platão tendia a parecer como um reacionário autoritário, de nada ajudou aos sofistas. Condenados a uma espécie de meia-vida entre os pré-socráticos, de um lado, e Platão e Aristóteles, de outro, eles parecem vaguear para sempre como almas perdidas.

O resultado é paradoxal. O período de 450 a 400 a.e.a. foi, sob vários aspectos, a maior época de Atenas. Foi um período de profundas mudanças sociais e políticas, de intensa atividade intelectual e artística. Padrões tradicionais de vida e experiência foram dissolvidos em favor de novos padrões. Crenças e valores das gerações anteriores eram criticados. O movimento sofista expressava tudo isso. Nós que, pode-se supor, temos a sorte de viver no tempo presente estamos especialmente bem posicionados para compreender o que era provável acontecer em tal situação, proceder à investigação e, tanto quanto possível, estabelecer, pelo estudo, o que de fato aconteceu.

A modernidade da extensão dos problemas formulados e discutidos pelos sofistas no seu ensino é realmente espantosa e a lista que se segue fala por si mesma. Primeiro, problemas filosóficos na teoria do conhecimento e da percepção - em que grau as percepções sensíveis devem ser consideradas infalíveis e incorrigíveis, e os problemas decorrentes nesse caso. A natureza da verdade e, acima de tudo, a relação entre o que parece ser e o que é real ou verdadeiro. A relação entre linguagem, pensamento e realidade. Depois, a sociologia do conhecimento, que reclama por investigação, porque muito do que supomos conhecer parece ser socialmente, na verdade etnicamente, condicionado. Isso abriu, pela primeira vez, o caminho para a possibilidade de uma abordagem genuinamente histórica da compreensão da cultura humana, sobretudo mediante o conceito do que foi chamado "antiprimitivismo", isto é, a rejeição da visão de que as coisas eram muito melhores no passado distante, em favor da crença no progresso e da ideia de um constante desenvolvimento na história dos seres humanos. O problema de se alcançar qualquer conhecimento a respeito dos deuses, e a possibilidade de que os deuses existam apenas em nossas mentes, ou até que sejam invenções humanas necessárias para servir às necessidades sociais. Os problemas teóricos e práticos da vida em sociedade, sobretudo nas democracias e sua doutrina implícita de que pelo menos sob alguns aspectos todos os homens são ou devem ser iguais. O que é justiça? Qual deveria ser a atitude dos indivíduos quanto aos valores impostos por outros, sobretudo numa sociedade organizada que requer obediência às leis e ao Estado? O problema do castigo. Natureza e finalidade da educação e o papel dos professores na sociedade. As ruinosas implicações da doutrina segundo a qual virtude pode ser ensinada, o que é apenas uma maneira de expressar, em linguagem fora de moda, o que queremos dizer quando afirmamos que pela educação as pessoas podem mudar a sua situação na sociedade. Isso, por sua vez, levanta de forma aguda a questão do que deve ser ensinado, por quem e a quem deve ser ensinado. O efeito de tudo isso na geração mais jovem em relação à mais velha. Como conseqüência de tudo isso, dois temas dominantes ¡ª a necessidade de aceitar o relativismo nos valores e noutras coisas, sem reduzir tudo ao subjetivismo, e a crença de que não há área da vida humana, ou do mundo como um todo, que seja imune à compreensão alcançada por meio do debate racional.

Uma lista longa, e talvez sejamos criticados por sentir que ela representa o processo mesmo de transição de uma antiga e tradicional representação do mundo para um mundo que é intelectualmente o nosso mundo, com os nossos problemas. No entanto a tentativa de interpretar os sofistas nessa linha mal começou. O que se segue neste livro é bem um primeiro passo. Antes de prosseguir com as interpretações nessa linha, será contudo útil, julgo eu, tratar brevemente de dois tópicos preliminares - a história das tentativas passadas de avaliar o movimento sofista, essencial para se compreender por que sua importância foi tão subestimada até agora, e a situação histórica e social que produziu a atividade dos sofistas.”. (Fonte: O movimento sofista, G. B. Kerferd, tradução de Margarida Oliva, Loyola, São Paulo, 2003, p. 9/12).

 

Nos ensina Guthrie:

 

As palavras gregas sophos, sophia, que se costumam traduzir por “sábio” e “sabedoria”, denotam primariamente perícia em determinada capacidade.

Um construtor de navios em Homero é "experimentado em toda sophia", um cocheiro, um piloto de navio, um áugure, um escultor são sophoi cada um em sua ocupação. [Osório diz: seria o doutor moderno?]

Conhecedora geral ou prudente, na linha de um ...um perito ...instruído em geral. ...(p. 31)

Mas Píndaro, sem dúvida, agradou ao seu real patrono ao escrever que aquele que sabe por natureza é sábio (sophos), em contraste com os papagaios que falam e adquiriram seu conhecimento por aprendizado.

sofistas”, é o nome do agente derivado do verbo. … (p. 32)

Provavelmente se supunha que o sophistes era mestres Está de acordo com o fato de que o nome se aplicava muitas vezes a poetas, pois, no modo de ver dos gregos, instrução prática e conselho moral constituíam a função precípua do poeta. [Osório diz: Poeta]

[Morrison em Duham U. J. 1949, 59. Seu artigo contém muitas provas de que (como também Jaeger sustenta em Paideia 1,293) os sofistas foram herdeiros da tradição educacional dos poetas. Não que fosse sua única herança. Nestle foi mais correto quando os chamou de herdeiros dos filósofos jônios também (V. Mzul, 262). Assim também de fato Morrison, I. cit. 56. [p. 33] [Osório diz: Herdeiros!]].

Os sosfitas e os poetas.

Teógnis está cheio de máximas éticas, algumas de alcance geral e outras em apoio da supremacia da alta classe.

O próprio Eurípides, desafiado a apresentar motivos pelos quais o poeta merece admiração, responde: “Por sua sagacidade e bom conselho, e porque merece admiração, melhores cidadãos”. …

Com poesia ia a música, pois o poeta lírico era seu próprio acompanhante. (p. 33)

Parece, contudo, que no séc. V a palavra começava a ser usada para escritores em prosa em contraste a poetas, quando a função didática veio a se exercer cada vez mais por este meio. Alguns dos Sete Sábios, em sua qualidade como sophistai ou mestres, expressaram em prosa o tipo de máximas que Teógnis ou Simônides expressaram em verso, o que deve ter lançado as sementes da distinção. 10 Xenofonte (Mem. 4.2. 1) diz que Eutidemo colecionou "muitas das obras escritas dos mais celebrados poetas e sofistas".

Um sophistes escreve e ensina porque tem especial perícia ou conhecimento para comunicar. Sua sophia é prática, quer nos campos da conduta e política quer nas artes técnicas. Se alguém pudesse fazer os produtos de todos os ofícios, e ademais todas as coisas no mundo natural, seria, com efeito, um fabuloso sophistes, diz Gláucon na República (596d), e uma frase semelhante, "um fabuloso (deinos) sophistes", expressa-se no mesmo tom de incredulidade por Hipólito em Eurípedes (Hip. 921) de um homem que poderia fazer sábios de loucos. (p. 34)

Um uso ainda mais surpreendente da palavra em sentido de elogio está em Xenofonte (Cyrop. 3.1.14 e 389ss): o príncipe armênio Tigranes fala a Ciro de um mestre com o qual está se associando, e que Xenofonte chama de sophistes. Seu pai mandou matar o homem na crença de que estava corrompendo Tigranes, mas o seu caráter era tão nobre que antes de sua execução mandou dizer a Tigranes para não levar a mal seu pai porque tinha agido por ignorância. [Osório diz: Primeiros sofistas?]

Deinotes, com o adjetivo deinos.

Astuto e esperto (p. 35)

embora Demóstenes seja figura do séc. IV...

Às duas críticas, que um sofista não é tão experto como ele crê que é, e que sua experteza é usada para objetivos errados, alude-se de novo num fragmento de Sófocles (97 Nauck): "Uma mente bem disposta, com pensamentos corretos, é melhor inventora que qualquer sophistes".

Também Aristófanes sabia de sua existência quando satirizou sofistas nas Nuvens, mas ainda usava a palavra em sentido mais geral, na qual pôde incluir (para os que o desaprovavam) Sócrates, embora ele não aceitasse nenhum pagamento e seja constantemente apresentado por Platão como o oponente inveterado dos sofistas. Em v. 331 as Nuvens se dizem ser as mães de criação de uma multidão de "sofistas", que são relacionados como adivinhadores de Turii, doutores charlatães, janotas de cabelos compridos, poetas ditirâmbicos e astrônomos espúrios – uma lista muito compreensiva. Em 360 Sócrates e Pródico são mencionados juntos como "meteorossofistas" ou peritos em fenômenos celestes. Em 1111 Sócrates promete que o seu ensino converterá o jovem Feidípides em sofista perito, sobre o que seu aluno indisposto comenta: "Um pobre diabo de face pálida, queres dizer", e em 1309 a palavra aplicada a Estrepsíades pelo coro não significa nada mais que “malandro”, em alusão a suas pechinchas com seus credores.

A palavra "sofista" tinha, pois, um sentido geral assim como também um especial do qual temos que falar ainda, e em nenhum destes sentidos [p. 36] era necessariamente termo de insulto. (Compare o juízo de Sócrates sobre o profissional Mícus). Se lembrarmos a vocação educacional dos poetas gregos, poderemos dizer que a palavra que se lhe aproxima mais em português é mestre ou professor.

Nas mãos do conservador Aristófanes tornou-se definitivamente termo de insulto implicando charlatanismo e velhacaria, (…) [Osório diz: Sofistas!]

Socrática [Nem seguiremos Popper (O. S. 263, n. 52) ao dizer que Platão é “o homem que por seus ataques aos ”sofistas” criou associações pejorativas associadas à palavra”. (Grifei). Uma afirmação melhor temos em Havelock (Lib. Temper, 158): “Os dramaturgos da Velha Comédia jogavam com o preconceito [contra o intelectualismo], se na verdade não o criaram, e quando Platão usa a palavra sophistes já tinha perdido dignidade. Talvez ele não possa esquecer as obras burlescas representadas em sua juventude que tinha lido ou visto”. (p. 37) ]. À parte a prova de Xenofonte, teria sido bastante impossível para Platão ter referido, na maneira e nos contextos em que ele assim se refere, aos mestres pagos como sofistas se este não tivesse o seu título reconhecido. [Osório diz: O que dizer os retratos que Aristófanes faz de Sócrates? E os faz em duas peças, não apenas em “As nuvens”, como costuma-se dizer. O faz, também, em “As aves”]

[Osório diz: Platão pegou uma figura popular para ser seu personagem principal. Era conhecido por todos, em especial por ser sujo (igual Diógenes, o cínico), “falava e falava”. Como qualquer questão (proposição é discutível) Platão resolveu questionar as de seu tempo pela boca de Sócrates, podendo, com isso, até eximir-se de responsabilidades, como os modernos, fora Popper, o eximem por seu amor a Esparta, aos tiranos (Siracusa), Eugenia, Escravidão, Aristocracia].

Um modo de ver como o de Grote só se pode sustentar pela prática acrítica (que não será acompanhada aqui) de aceitar como fato todas as referências aos sofistas em Platão que são neutras ou simpáticas (“Mesmo Platão foi forçado a admitir...") e descartar toda observação menos lisonjeira como apenas devida a preconceito não-liberal. Quando Protágoras no Protágoras de Platão se confessa sofista e educador apesar do ódio que se liga ao termo, um ódio que ele explica como devido ao fato de que eles entram nas grandes cidades da Grécia como estrangeiros e afastam seus mais prometedores jovens de suas relações e amigos pretendendo que seu ensino é melhor, não existe nenhuma razão para duvidar da realidade do estado de coisas que ele descreve. Seu alarde tem um elemento de bravata: e preciso coragem para se declarar sofista. Igualmente verdadeira para o caráter dos atenienses é a observação de Sócrates no Eutifro (3c) de que não importa se pensam se alguém é deinos contanto que o guarde para si mesmo, mas se ele começa a ministrar sua superior experteza a outros pelo ensino, eles ficam com raiva, ou por ciúme ou por qualquer outra causa. Aqui Sócrates tem em mente sua própria situação difícil, mas obviamente a observação se aplica também aos sofistas profissionais; ele, com efeito, participava de sua reputação, como o deixam claro as Nuvens. [p. 37] No século seguinte, Esquines, o orador, pôde se referir a ele casualmente como "Sócrates o sofista" [Foi no mesmo discurso que Esquines chamou Demóstenes de sofista. Embora o lapso dos séculos o faça de alcance duvidoso para a presente discussão, é interessante que Luciano tenha podido se referir a Cristo como "o sofista crucificado" (Peregrinos 13). [Osório diz: Se Cristo também foi chamado... O argumento serve para defender apenas Sócrates ou a todos?]]. [p. 38] [Osório diz: O que Platão não soube, foi separar o joio do trigo. Além do mais, além de ter escolhido os melhores para nomear, ele não os enfrenta nas questões que diz condenar, já que não acusa ninguém, especificamente]

Reconheciam sua descendência da primitiva tradição educacional dos poetas; com efeito, Protágoras, no discurso um tanto auto-satisfeito que Platão lhe põe nos lábios (Prot. 316d), acusa Orfeu e Museu, Homero, Hesíodo e Simônides de usar de sua poesia como disfarce, por medo do ódio ligado ao nome que descreve seu real caráter, que era o de sofistas como ele mesmo [O nome foi dito por Plutarco (Péricles 4) de Damon, sofista que foi aluno de Pródico e amigo de Sócrates (Platão, Ladres 197d). Ele era conhecido sobretudo como autoridade em música, mas, diz Plutarco, embora sofista líder e de fato o mentor de Péricles em política, ele usou sua reputação musical para esconder sua deinotes. Isto, porém, não lhe valeu, e foi ostracizado. Sua associação com Péricles é confirmada por Platão (Ale. I 118c) e Isócrates (Antid. 235), e seu ostracismo (já em Arist. Ath. Pol. 27. 4) pela descoberta de um óstraco com seu nome (DK, 1, 382 n. Na República (400b, 424 c) Platão esclarece que seu interesse por música ligava-se a questões mais abrangentes de seus efeitos morais e sociais. Ele vai tão longe a ponto de dizer que na visão de Damon "os modos musicais não são nunca perturbados sem perturbaras convicções políticas e sociais mais fundamentais" ( trad. Shorey). Se fosse conhecido mais dele, podia ocupar importante lugar na história do movimento sofista, mas em nossa relativa ignorância ele só pode aparecer como nota de rodapé a ela. Textos em DK, 1, n. 37, e estudos modernos incluem W. D. Anderson, "The importance of the Damonian theory in Plato's thought" (TAPA, 1955; veja também seu livro Ethos and education in Greek music e sua rescensão por Borthwick em CR, 1958); cap. 6 de F. Lasserre, Plut. dela musique; J. S. Morrison em CQ, 1958, 204-6; H. John, "Das musikerziehende Wirken Pythagoras und Damons" (Das Altertum, 1962).]. (A confusão anacrônica está em aceitar o tom despreocupado que Platão adota nas partes dramáticas do seu diálogo, pois, nem é preciso dizer, nenhum estigma profissional se ligava ao nome em tempos primitivos, e, em todo caso, como vimos, era de fato aplicado aos poetas). No Meno (91e-92a), Platão fala de "muitos outros", além de Protágoras, que praticaram a profissão de sofistas, "alguns antes de seu tempo e outros ainda vivos".(p. 38)

Ele não era orador nem um dos chamados filósofos da natureza. Antes fez prática do que se chamava sophia, mas era na verdade perspicácia política (deinotes) e sagacidade prática, e assim perpetuou o que poderíamos chamar de escola que viera em sucessão desde Sólon. Seus sucessores a combinaram com a arte de eloqüência forense, e, transferindo seu treinamento da ação para o discurso eram chamados sofistas.19 [Osório diz: atuação política ostensiva]

Referências aos sofistas como pagos por seu trabalho são freqüentes em Platão.

"Os que vendem sua sabedoria por dinheiro a quem a queira são chamados sofistas", diz Sócrates em Xenofonte (Mem. 1.6.13), e acrescenta um comentário mais cáustico do que qualquer coisa em Platão.

Isócrates em sua idade avançada 21 defendeu a profissão que equiparou com o seu próprio ideal filosófico, ideal muito mais próximo de Protágoras que de Platão. A melhor e maior recompensa de um sofista, diz ele, é ver alguns de seus alunos se tornar cidadãos sábios e respeitados. Reconhecidamente, há alguns maus sofistas, mas os que fazem uso adequado da filosofia não devem ser culpados pelos poucos carneiros pretos. Em conformidade com isso, ele defende-os da acusação de aproveitamento.

Nenhum deles, diz ele, fez grande fortuna ou viveram senão modestamente, nem mesmo Górgias que ganhou mais que qualquer outro e era solteiro sem nenhum laço e família [Dodds, argumentado que Górgias não era sofista, tenta excluir essa passagem, da mesma forma que Platão, Hip. Maj. 282b5 e Isócr. Antid. 268 (Gorg. 7).]. [Osório diz: Bom! Inveja!]

Aristóteles descreve o sofista como alguém que faz dinheiro de uma sabedoria aparente, mas irreal, e pondo de lado a zombaria, esta e outras passagens são provas de que sofistas pagos inda existiam em seu tempo. [p. 39] [Osório diz: E existe ainda hoje: professores, advogados etc.]

[Osório diz: Quem escreveu primeiro, Xenofonte ou Platão? De pronto, Xenofonte! Ele é citado por Platão como presente no julgamento de Sócrates?]

O profissionalismo dos sofistas frisa-se pelo fato de que Protágoras tinha duas classes de alunos: jovens de boa família que desejavam entrar na política, e aquele, como certo Antimero de Mende (isto é, não ateniense), que estudava "para fins profissionais (epi techne), para se tornar por sua vez sofista". 24 No Protágoras (313c), Sócrates descreve o sofista como "o vendedor dos bens pelos quais a alma [a mente] é nutrida", e sugere razões pelas quais o jovem devia hesitar em se confiar a isso como um deles: como varejistas de alimentos corporais, eles elogiam suas mercadorias indiscriminadamente sem conhecimento dietético de sua inteireza; diferentes de alimentos, seus produtos entram diretamente na mente, e não se podem guardar em jarros até descobrir o que consumir e como e em que quantidades. Pela época em que Platão escreveu o Sofista (em que Sócrates não tem nenhum papel no argumento principal), eles tinham se tornado simplesmente (entre outras características indesejáveis) "caçadores pagos de jovens ricos". Desconfiança dos sofistas não se restringia a Platão. A ex-plosão de raiva de Anito deve ser verdadeira, assim como também quando o jovem Hipócrates, filho de uma "grande e próspera casa", se enrubece de vergonha ao pensar em se tornar sofista (Prot. 312a). No Górgias (520a), o oponente mais violento de Sócrates, Cálicles os descarta como "caras inúteis", e no FEDRO (257d), Fedro afirma que os políticos mais poderosos e respeitados têm medo de escrever discursos próprios e deixar obras próprias para a posteridade, temendo ser chamados sofistas, foi muito mais gentil ao lidar com os melhores deles como Protágoras, Górgias e Pródico. Uma observação pejorativa sobre sofistas, em conexão com Pródico, é posta nos lábios de Laches, e não de Sócrates (Laches 179d). Xenofonte, num epílogo moral ao seu tratado sobre a caça (e. 13), os censura como mestres de fraude ["Se a Cynegetica é de Xenofonte, o que alguns duvidaram. Veja Lesky, Hist. Gr. Lit. 621s. Outros sustentaram que a passagem é influenciada pelo Sofista de Platão (Grani, Ethies, 1, 111) e frisaram que ambas foram escritas após a morte da primeira e brilhante geração de sofistas. Assim pode-se presumir, foram Protágoras e Meno, embora sejam Protágoras, Górgias, Hípias e Pródico para Platão os sofistas representativos.].

A atitude do público ateniense era ambivalente, refletindo a situação transitória da vida social e intelectual ateniense. Os sofistas não tinham nenhuma dificuldade de encontrar alunos para pagar suas altas taxas, ou [p. 40] auditórios para suas conferências e exibições públicas. Todavia, alguns dos mais velhos e conservadores desaprovavam fortemente a eles. Esta desaprovação vincula-se, como Platão mostra, com o seu profissionalismo [Isso não significa, necessariamente, aristocrático ou oligárquico como oposto a democrático. Anito era democrata eminente. A divisão entre democrata e antidemocrata corta entre bem-nascidos e plebeus. Péricles, que completou a revolução democrática, foi Alcmênide como Clêistenes que a começou. Dr. Ehrenberg o chamou "o democrata aristocrático". Cf. suas observações na p. 65 de sua Soc. and cio. in Gr. and Rome: "A velha educação aristocrática estava fora de contato com as realidades da vida contemporânea, mas era em larga medida a mesma classe dominante que governava o Estado democrático". Cf. também M. A. Levi, Pol. power in the anc. World, 65, 90. [Osório diz: Considerar!]]. [Osório diz: Só?!]

Sócrates era filho de cortador de pedras e provavelmente seguiu o mesmo negócio, mas (impopular que era em muitos lugares) isto nunca se aduziu contra ele. Poetas tinham sido pagos por seu trabalho, de artistas e doutores se esperava que fossem pagos to por sua atividade e por ensiná-la a outros [Outras experiências estão, V MzuL, 259, n. 36. Platão diz de Zenão, o filósofo, que arrecadou a impressionante soma de 100 minas por um curso (Ale. 119a), embora, quando autoridades posteriores dizem o mesmo de Protágoras (como na verdade o fazem de Górgias, Diod. 12.53.2), Zeler o descarte como altamente exagerado (ZN, 1299, n. 2). Todavia Zenão parece não ter partilhado do nome e da censura dos sofistas. [Osório diz: a acusação é seletiva! Zenão não é político ateniense. Não é um aristocrata brigando contra a democracia]]. A preocupação parece ter-se voltado para a espécie de assuntos que os sofistas professavam ensinar, especialmente a arete. Protágoras, interrogado sobre o que Hipócrates aprenderá dele, replica (Prot. 318e): "O cuidado adequado de seus próprios família, também negócios,Vala que possa administrar melhor sua e à o cuidado dos negócios do Estado, para se tornar poder real na cidade quer como orador, quer como homem de ação". Em breve, diz Sócrates, a arte da cidadania, e Protágoras enfaticamente concorda. Embora alguns deles ensinassem muitas outras também, tudo inclusive avanço político em seu currículo, e a chave para este, na Atenas democrática, era o poder do discurso persuasivo [De modo semelhante nas Nuvens (v. 432) Sócrates, que é aí caricaturado entre outras coisas um sofista profissional (cf. 98 argyrion en tis dido), assegura a Estré—p-Ma ~e.que`p.r sua instrução en to demo gnomas oudeis nikesei pleionas e sy. Em Górg. 520e Sócrates sugere uma razão pela qual ensinar esta espécie de coisa não era visto com bons olhos.]. Górgias concentrou-se de fato só na retórica recusando-se a ser inserido entre os mestres de arete, pois sustentava que a retórica era a arte-mestra a que todas as outras devem acatar [gretes didaskaloi era o modo regular de Platão se referir aos sofistas (Dodds, Górgias, 366). Para Górgias veja Meno 95c., Górg. 456-e, especialmente ou gar estin peri hotou ouk an pithanoteron thanoteron eipoi ho retorikos e allos hostisoun ton demiourgon en plethei. Górgias até admite que seus alunos aprenderão dele os princípios do certo e do errado "se acontece que já não o sabem" (460a), mas sustentando ao mesmo tempo que o mestre não é o responsável pelo uso feito de seu ensino [Osório diz: esta lição somente vale, segundo os fanáticos, quando aplicada a Sócrates, se os alunos forem dos sofistas...]. Para a correção de incluir Górgias entre os sofistas veja agora E. L. Harrison em Phoenix, 1964 (contra Raeder e Dodds).]. [Osório diz: Por ser seu igual, Platão não o queria sofista? Vide nota 22, p. 39]

Ora, "ensinar a arte da política e empreender fazer dos homens bons cidadãos" (Prot. 319a) era o que precisamente em Atenas se considerava o campo especial do amador e do cavalheiro. Todo ateniense da alta classe devia entender a conduta adequada dos negócios por uma espécie de i finto herdado de seus antepassados, e estar preparado para transmiti-lo aos filhos. Até Protágoras admitia isso, embora pretendendo que ainda deixava [p. 41] espaço para sua arte pedagógica como suplemento. [Osório diz: Instinto nada! Exemplo e meios para tal]

Na passagem do Meno, a que já se referiu, Sócrates sugere inocentemente a Anito, importante líder democrático que se tornou seu principal acusador, que os sofistas eram as pessoas adequadas para instilar no jovem a sophia que o adequará para administrar o Estado, governar a cidade, e em geral demonstrar o savoir-faire próprio do cavalheiro. Quando Anito os injuria como ameaça para a sociedade, e Sócrates pergunta a quem, então, na sua opinião, o jovem deve se dirigir para tal treinamento, ele replica que não há nenhuma necessidade de mencionar indivíduos particulares, pois "todo cavalheiro decente ateniense que lhe acontecer encontrar, faria dele melhor homem do que os sofistas poderiam fazer". (p. 42) [Osório diz: Na democracia, nem todos são democratas, nem seus líderes!]

Os motivos pelos quais Sócrates criticava sua aceitação de pagamento eram bem diferentes, e típicas do homem. Ele sustentava (temo-lo não de Platão, mas de Xenofonte) que, ao aceitar dinheiro, eles se privavam de sua liberdade: estavam obrigados a conservar com todos os que podiam pagar suas taxas, ao passo que ele era livre para gozar da companhia de qualquer que escolhesse”. [Osório diz: escolher o aluno ou ser escolhido por ele? Mudavam a “formatação” do curso por causa do aluno?]

Chegou ao ponto de chamá-lo prostituição, vender sua mente não era melhor que vender seu corpo.

A sabedoria era algo que devia ser gratuitamente partilhada entre pessoas amigas e amadas (1.6.13). Esta era a maneira como a filosofia tinha sido considerada até então, sobretudo na escola pitagórica, de que Platão com certeza, e Sócrates provavelmente, eram admiradores. [Osório diz: viver e capital]

O conceito complexo socrático-platônico de Eros, um amor homossexual sublimado, também deve ter estado em ação.

É exagero dizer, como temos dito amiúde [T. Gomperz: "É ilegítimo, se não absurdo, falar de mente sofista, moralidade sofista, ceticismo sofista e assim por diante". (Até o mero fato de ser mestres profissionais pode ter um efeito: alguns pelo menos estariam dispostos a sustentar que existe tal coisa como uma mente magistral ou uma mente empavoada (Gr. Th. 1, 415)). Para semelhante ponto de vista veja H. Gomperz, Soph. u. Rh. 39.], que os sofistas nada tinham em comum exceto o fato de serem mestres profissionais, nenhum campo comum nos assuntos que ensinavam ou na mentalidade que estes produziam. Um assunto pelo menos todos eles praticavam e ensinavam em comum: a retórica ou a arte do logos [Veja as provas coligidas por E. L. Harrison, Phoenix, 1964, 190ss, mi. 41 e 42. A alegação de Schmid (Gesch. gr. Lit. 1.3.1, 56s) de que a retórica era desconhecida entre os primeiros sofistas e introduz Górgias no último terço do século, não é produzida pelas provas. [Osório diz: de que sofistas fala ele? Todos os sábios eram sofistas. Talvez ele se refira ao cenário: Atenas não democrática]].

Quando ao jovem Hipócrates se perguntou o que ele pensava ser o sofista, respondeu: “Mestre na arte de fazer oradores hábeis”. (Fonte: Os sofistas, W. K. C. Guthrie, tradução, João Rezende Costa, Paulus, São Paulo, 1995, p. 47).

 

Ensina Gilbert Romeyer-Dherbey:

 

O próprio nome de “sofista” que significa “sábio”, desviado do seu sentido original, tornou-se sinônimo de possuidor de um falso saber, não procurando senão enganar, e fazendo, para isso, um considerável uso do paralogismo. Aristóteles, seguindo o veredito do seu mestre Platão, chamará sofista “ao que tem da sabedoria a aparência, não a realidade” (Refutações sofísticas, I, 165 a 21, ver também Tópicos, I, 100 b 21.), e o “sofisma” será sinônimo de falso raciocínio. [Osório diz: o nome Sofista]. (Fonte: Os sofistas, Gilbert Romeyer-Dherbey, tradução João Amado, Edições 70, Lisboa, 1999, p. 9).

 

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