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22.1 – Aristóteles e sua hostilidade aos sofistas.

Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

22.1 – Aristóteles e sua hostilidade aos sofistas.

 

Quando encontramos Aristóteles contando a mesma história — a arte sofista, diz ele, consiste em aparente sabedoria que não é, de fato, sabedoria, e o sofista é alguém que ganha dinheiro com "sabedoria aparente, não real" (Sophistici Elenchi 165a22-23; Metafísica, 1, 1004b25ss.)[Osório diz: tenho tentando me insurgir contra a tal sabedoria aparente e a real! É que a real eu não conheço, nem conheço quem a conheça e a não real é, portanto, igual a real! Ademais, não consegue discursar/dialogar sobre um determinado assunto quem não o conheça, pelo menos minimamente, já que no fundo ninguém o conhece!] — não é de surpreender que essa tenha permanecido a visão corrente nos dois mil anos seguintes. Por impossível que pareça, a reputação dos sofistas piorou ainda mais — eles forneceram o que parecia ser material prontinho para interpretações cristianizadoras e moralizadoras da história [Osório diz: os verdadeiros adversários dos Sofistas nas eras pós platônicas-aristotélicas, embora trabalhando com esses autores: cristãos e moralizadores!]. Chegaram a ser vistos como [15]

 

impostores ostensivos, adulando e ludibriando a juventude rica em benefício próprio, solapando a moralidade pública e privada de Atenas e encorajando seus discípulos na busca inescrupulosa de ambição e cupidez. Dizem até que conseguiram corromper a moralidade geral, de modo que Atenas se tornou miseravelmente degenerada e viciosa nos últimos anos da guerra do Peloponeso, em comparação com o que era no tempo de Milcíades e Aristides1.” [Osório diz: a moralidade da guerra e da aristocracia ninguém quer ver!] (Fonte: O movimento sofista, G. B. Kerferd, tradução de Margarida Oliva, Loyola, São Paulo, 2003, p. 15-16).

 

Alguém pode levar a sério, seriamente, as acusações acima?

Aristóteles, ao vir em socorro de Platão, somente aumenta o rol de tolices, em especial por que, passados 2.500 anos, qual a sabedoria real ensinada pelos dois?

Ou seja, o próprio tempo está aí a demonstrar que a sabedoria ensinada por Platão e Aristóteles não é real, pois tudo que eles disseram está em aberto. Tudo se transformou ou é aporia, como as próprias questões levantadas por Sócrates permanecem irrespondidas, e não foram respondidas nem pelo próprio, não porque ele soubesse mas, ironicamente, dissesse que não sabia, mas pelo fato de nada saber mesmo, como, de resto, ninguém sabe nada.

As 7 acusações platônicas são risíveis, em especial se olharmos para o Sócrates amado, que vivia na companhia do próprio Platão, rico e Alcibíades, também rico, por exemplo.

Parecia ser material prontinho”, mas não era, basta que não se dê a interpretação cristianizada que foi dada!

Aliás, como se verá, os sofistas arrasaram com as religiões, logo estas os têm como perniciosos e seus inimigos. Daí em transformá-los em demônios é um passo simples.

Tais críticos agem com tamanha má-fé que chegam a esquecer o próprio Péricles, apenas para tentarem apagar a influência que ele recebeu ao ter buscado pelos sofistas, que o assessoravam, embora não esqueçam, sempre por conveniência de seus propósitos mesquinhos, do chamado “Século de ouro grego” ou do “Século da Grécia Clássica”, que é, justamente, o Século V antes da era atual.

Aliás, Platão e Aristóteles já são fruto da Grécia decadente, e não da época Gloriosa de Atenas!”

 

É Barbara Cassin quem diz:

 

Por sua vez, Aristóteles refuta aqueles que pretendem, com Protágoras, que "todos os fenômenos são verdadeiros", e acreditam poder assim recusar-se se submeter ao princípio de não-contradição: simplesmente eles confundem, como Heráclito, o pensamento com a sensação e a sensação com a alteração (5,1009b12s.). Ora, fiar-se exclusivamente no sensível e na sensação, e buscar traduzir em palavras fiéis esse devir incessante, só poderia levar a contradição, aos paradoxos, ao silêncio mesmo como o de Crátilo que se contenta em agitar simplesmente o dedo [Osório diz: o personagem Crático, no diálogo que leva o seu nome, não fala, contenta-se em, simplesmente, agitar o dedo]. Com isso, Aristóteles não se contenta em reduzir a sofística à sombra, nociva, [9] trazida pela filosofia: ele elabora uma verdadeira estratégia de exclusão. Pois o sofista, se persevera na sua suposta fenomenologia, se condena ao mutismo; e, se pretende ainda falar, fala então para não dizer nada, "pelo prazer de falar", fazendo simplesmente ruído com sua boca. Se é possível na verdade desfazer a maior parte dos sofismas distinguindo as significações, graças às categorias por exemplo, ou dissipando as homonímias e as anfibolias23, é preciso renunciar a refutar os que se situam somente no plano "do que é dito nos sons da voz e nas palavras" (5, 1009a 21s.), no plano do significante: esses, só podemos reduzi-los à insignificância. Aristóteles, fazendo equivaler exigência de não-contradição e exigência de significação, chega a marginalizar os refratários e a relegá-los, "plantas que falam", aos confins não apenas da filosofia, mas da humanidade. (Fonte: Ensaios Sofísticos, Barbara Cassin, Tradução de Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão, Edições Siciliano, São Paulo, 1990, p. 9-10).

 

 

1 GROTE, History of Greece, nova ed., Londres, 1883, vol. VIII, p. 156. Esta, naturalmente, não é a opinião pessoal de Grote.

  1. 2 3 Anfibolias - “Em Aristóteles (El. sof., 4, 166 a), é um dos sofismas in dictione, mais precisamente a falácia (v.) que provém do fato de que uma frase torna-se ambígua pela construção gramatical defeituosa. Mais genericamente, o termo A. foi entendido como uma palavra que significa duas ou mais coisas (Sexto Empírico, Pirr., hyp., II, 256). Em Kant, o termo A. é usado na expressão "A. dos conceitos de reflexão" para indicar a confusão entre o uso empírico intelectual e o uso transcendental dos conceitos de reflexão como "unidade" e "multiplicidade", "matéria", "forma" e semelhantes (Crítica R. Pura, An. dos princ., Apênd.)” Dicionário de Filosofia, Nicola Abbagnano, Martins Fontes, São Paulo, p. 60. [Osório diz: muito confuso!]. “Sofisma verbal”.

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