Sofística
(uma biografia do conhecimento)
22.6 – Aristóteles e a escravidão.
É Barbara Cassin quem diz:
“O escravo seria assim não mais um corpo, mesmo animado, mas algo como o corpo da alma. É preciso ainda acrescentar que a modulação lógica do sem lógos continua ao infinito, pois Aristóteles logo precisa que "as partes da alma existem em todos esses seres (i.e, o escravo, a mulher e a criança), mas que elas existem neles diferentemente: o escravo não tem absolutamente a faculdade de deliberar, a mulher a tem mas sem poder de decidir, a criança a tem mas não totalmente" (10-14). Sem dúvida, a melhor maneira de caracterizar a relação do escravo com o lógos, que o possui então sem possuí-lo, seria dizer que é sensível a ele: é por isso que não se deve "privar os escravos de lógos dando-lhes apenas ordens", é preciso, ao contrário, lhes "colocar coisas no espírito" (nouthetêtéon), "juízo na cabeça", diríamos, ainda mais do que às crianças (1260b5-7).” (Fonte: Ensaios Sofísticos, Barbara Cassin, Tradução de Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão, Edições Siciliano, São Paulo, 1990, p. 112).