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23.9 – Sócrates, por Aristófanes.

Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

23.9 – Sócrates, por Aristófanes.

 

Ensina Guthrie:

 

Também Aristófanes sabia de sua existência quando satirizou sofistas nas Nuvens, mas ainda usava a palavra em sentido mais geral, na qual pôde incluir (para os que o desaprovavam) Sócrates, embora ele não aceitasse nenhum pagamento e seja constantemente apresentado por Platão como o oponente inveterado dos sofistas. Em v. 331 as Nuvens se dizem ser as mães de criação de uma multidão de "sofistas", que são relacionados como adivinhadores de Turii, doutores charlatães, janotas de cabelos compridos, poetas ditirâmbicos e astrônomos espúrios — uma lista muito compreensiva. Em 360 Sócrates e Pródico são mencionados juntos como "meteorossofistas" ou peritos em fenômenos celestes. Em 1111 Sócrates promete que o seu ensino converterá o jovem Feidípides em sofista perito, sobre o que seu aluno indisposto comenta: "Um pobre diabo de face pálida, queres dizer", e em 1309 a palavra aplicada a Estrepsíades pelo coro não significa nada mais que “malandro”, em alusão a suas pechinchas com seus credores.

A palavra "sofista" tinha, pois, um sentido geral assim como também um especial do qual temos que falar ainda, e em nenhum destes sentidos [p. 36] era necessariamente termo de insulto. (Compare o juízo de Sócrates sobre o profissional Mícus). Se lembrarmos a vocação educacional dos poetas gregos, poderemos dizer que a palavra que se lhe aproxima mais em português é mestre ou professor.

Nas mãos do conservador Aristófanes tornou-se definitivamente termo de insulto implicando charlatanismo e velhacaria, (…) [Osório diz: Sofistas!]

[3.37.2. A mesma expressão é tirada por Aristófanes, quando o seu coro de cavaleiros se congratula com Demos (Knights 1111) porque

kalen g'echeis

archen, hote pantes anthropoi

dediasi s' hosper

andra tyrannon.

A ironia de uma democracia que se comportasse como um tyrannon não era algo que Aristófanes deixaria escapar. [Osório diz: o ensinamento serve para Sócrates também? Será que Aristófanes deixaria escapar tal figura?]]

A relação de Sócrates e Platão com os sofistas é sutil [Osório diz: daí o acerto de Aristófanes ao descrever Sócrates!]. Diz-se geralmente que, ao passo que os sofistas eram empiristas que negavam a possibilidade de uma definição geral de "bem" pelo motivo de ela diferir relativamente aos indivíduos e às sociedades e suas circunstâncias, Sócrates (e Platão depois dele [Osório diz: este é um problema!]) insistiu em que havia um bem universal, cujo conhecimento daria a chave para a ação reta para todos em toda parte. Assim Aristóteles (como Platão no Meno) descreve-o insistindo numa definição geral de arete em contraste a Górgias que preferia enumerar virtudes separadas (Pol. 1260a27). Todavia, no Fedro é o "verdadeiro retórico", isto é, o filósofo dialeticamente treinado [Osório diz: vejam como Platão aproveita tudo dos sofistas, apenas diz que o que ele, Platão, expõe é o certo, o verdadeiro, a verdade], que é comparado com um médico qualificado, que não só sabe como ministrar vários tratamentos mas também entende o que é apropriado a determinado paciente, e quando e por quanto tempo – um homem, pelo que parece, na tradição empírica do melhor ensino médico grego. Ao invés, o retórico comum, que "por ignorância da dialética é incapaz de definir a natureza da retórica", assemelha-se a curandeiro que aprendeu de livro como dar vomitório ou purgante, mas não tema menor ideia de quando seu uso será apropriado (Fedr. 268a-c, 269b) [Osório diz: eis o elitismo! Como se os primeiros médicos não estivessem mais para curandeiros!]. Pode ser que a busca socrática de definições, e seu fruto, a dialética platônica da "coleção e divisão", antes incluem e transcendem do que anulam a obra dos sofistas e retóricos [Osório diz: isso seria até aceitável, não fosse a volta ao misticismo (deuses) e a fixação em verdade, que é sempre provisória, paradigma]. Descreve-se, afinal, seu ensino no Fedro como sendo, se bem que não a arte da retórica propriamente dita, uma necessária propedêutica para ela (ta pro tes technes anagkaia, 269c). Tais questões exigem cuidadosa consideração; v. especialmente Sócrates, c. III, § 8. [Osório diz: Sofistas e Sócrates são tão parecidos que não se consegue separá-los!]

Eurípedes (…) é como espelho de seu tempo que ele (para nossos presentes objetivos) é mais bem considerado. (p. 216) [Osório diz: por isso, Aristófanes também deve sê-lo!]

O mesmo se pode dizer da teoria de Joël segundo a qual a descrição que Xenofonte faz de Sócrates não tem nenhum valor histórico, porque fazia dele uma figura essencialmente antistenesiana e cínica.” [Osório diz: para o fanático Joël, somente Platão, nada mais que Platão! Mas, isso casa com o que diz Aristófanes]. (Fonte: Os sofistas, W. K. C. Guthrie, tradução, João Rezende Costa, Paulus, São Paulo, 1995, p. 36, 216 e 286).

 

[Osório diz: Sempre os defensores de Sócrates, quando este é apontado como sofista, dizem que o comediante Aristófanes equivocou-se ao retratá-lo como tal em sua peça 'As nuvens'. Ocorre que, Aristófanes era inteligente demais para ter se equivocado sobre a pessoa de Sócrates.

E mais que isso, os defensores de Sócrates apontam apenas a peça acima citada (“As Nuvens”). Ocorre que Sócrates é citado por Aristófanes não uma única vez como se quer fazer crer, mas “espantosamente” duas vezes!

A segunda citação ocorre na peça “As rãs” quando Aristófanes faz o coro dizer:

Feliz o homem totalmente sábio! Milhares de provas atestam a veracidade desta afirmação. Este, por ter sido sábio, voltará a ver a sua casa, o que é uma vantagem para seus concidadãos, para seus parentes e amigos; ele deverá tudo a sua sapiência. É bom, então, não ficar perto de Sócrates conversando com ele, desdenhando a música e as partes mais importantes da arte trágica. É loucura perder tempo em conversas ociosas, em sutilezas frívolas.”

Além de sua inteligência aguçada Aristófanes tinha um público bastante esclarecido para saber do que e sobre o que ele falava, para tanto basta que vejamos o número de notas explicativas de qualquer tradução de suas peças, como ocorre na elaborada por Mário da Gama Kury para a peça “As rãs” pela Editora Zahar cujo o trecho acima transcrito está nas páginas 273/274.].

 

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