visão geral

Você está aqui: Home | Sofistas da Atenas de Péricles | Visão geral

34 – Quais as influências que os Sofistas exerceram?

Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

34 – Quais as influências que os Sofistas exerceram?

 

Diz Guthrie:

 

Falei como se as circunstâncias políticas e as ações públicas dos Estados gregos originassem as teorias morais arreligiosas e utilitárias dos pensadores e mestres, mas é mais provável que prática e teoria agissem e reagissem mutuamente entre si. Sem dúvida, os atenienses não precisavam de um Trasímaco ou de um Cálicles para ensinar-lhes como lidar com uma ilha recalcitrante, mas os discursos que Tucídides põe nos lábios dos porta-vozes atenienses, no que ele tipifica um debate com a assembleia meliana, trazem marcas inconfundíveis de ensino sofista. Péricles era amigo de Protágoras, e quando Górgias apareceu diante dos atenienses em 427, os novos floreios da oratória com que ele pleiteou a causa de sua terra natal, a Sicília, suscitaram admiração e surpresa (p. 169, n. 11, abaixo). Se os sofistas foram produto de seu tempo, por sua vez também ajudaram a cristalizar suas ideias. Mas seu ensino pelo menos caiu em terreno bem preparado. Ao ver Platão, não eram eles que deviam ser declarados culpados por infeccionar os jovens com pensamentos perniciosos, pois nada mais faziam do que refletir os prazeres e as paixões da democracia existente:

Cada um destes mestres profissionais, que o povo chama de sofistas e considera seus rivais na arte da educação, não ensina, com efeito, nada mais do que as crenças do povo expressas por ele mesmo em suas assembléias. É isso que afirma como sua sabedoria.

 

Os sofistas eram, com efeito, individualistas, e até rivais, competindo entre si por favor público. Não se pode, pois, falar deles como escola. De outro lado, pretender que filosoficamente nada tinham em comum é ir longe. Partilhavam da perspectiva filosófica geral descrita na introdução sob o nome de empirismo, e com este ia ceticismo comum sobre a possibilidade de conhecimento certo, em razão tanto da inadequação e falibilidade de nossas faculdades como da ausência de uma realidade estável para ser conhecida. Todos igualmente acreditavam na antítese entre natureza e convenção. Podem diferir em sua avaliação do valor relativo de uma, mas nenhum deles sustentaria que leis, costumes e crenças religiosos humanos eram inabaláveis porque enraizados numa ordem natural imutável. Estas crenças — ou falta de crenças — eram partilhadas por outros que não eram sofistas profissionais, mas caíram sob sua influência: Tucídides, o historiador; Eurípedes, o poeta trágico; Crítias, o aristocrata, que também escreveu dramas, mas foi um dos mais violentos dos Trinta Tiranos de 404 a.C. Nesta aplicação mais ampla, é perfeitamente justificável falar de mentalidade sofista ou de movimento sofista no pensamento.” [Osório diz: este parágrafo está muito bom!]

[Quando se fala em “todos igualmente, acima, quer se dizer que: Isso está expressamente atestado para Protágoras, Górgias, Hípias e Antífon, e pode-se afirmar com confiança de Pródico, que partilhava da ideia de Protágoras acerca das metas práticas de sua instrução (Platão, Rep. 600c-d). Pode-se mostrar em sofistas posteriores como Alcidamas e Licófron, e seria difícil produzir claro exemplo contrário.]. (Fonte: Os sofistas, W. K. C. Guthrie, tradução, João Rezende Costa, Paulus, São Paulo, 1995, p. 25, 49).

 

Todos os setores da vida grega ficaram marcados pela passagem fulminante desses pensadores: religião, política, moral, direito etc.

Dentre as pessoas de destaque a quem influenciaram, estão, por exemplo: Péricles, Eurípedes, Tucídides, etc.

Não restam dúvidas que Platão e Aristóteles... que serão tidos como seus maiores opositores, beberam também em suas fontes, até para que pudessem tentar contestá-los, mas, sem dúvida, acabaram por eles contaminados. (Veja-se Barbara Cassin).

Não queria, ou quero, neste livro, falar sobre deus, mas é impossível não fazê-lo, já que fomos criados, educados, ensinados, doutrinados ele sempre nos referir: seja pedindo, agradecendo, consultando. De modo que ele, deus, está impregnado na nossa cultura e, consequentemente, por estarmos impregnados pela cultura do nosso em torno, impregnado está o nosso subconsciente. Mas deus é exemplo do que não se prova, embora muitos o tenham como a verdade apelidada, qualificada de: absoluta.

Os dogmas, ou seja, questões indiscutíveis, sãos as provas contundentes dos limites do nosso saber. Eles dizem: se não podemos explicar, está proibido de ser discutido.

São, os dogmas, as guilhotinas usadas pelas religiões.

Como são extremamente escassos os escritos de autoria dos sofistas, restando apenas alguns poucos fragmentos, e a maioria deles conservadas em obras de seus detratores, o diálogo entre Mélios e Atenienses, acima, é muito rico no entendimento daquilo ensinado pelo, a despeito de inapropriado, denominado de movimento sofístico.

Tucídides viveu entre 460 ou 455 e 400 a.e.a., ou seja, foi contemporâneo do movimento que tanto influenciou a sua decantada história, fato que, deveria ser reconhecido por aqueles que “aplaudem” Tucídides e “vaiam” os Sofistas, nunca contradição, por desconhecimento, sem par.

A guerra do Peloponeso foi travada entre 431 a 404 a.e.a., desse período (27 anos), Tucídides narrou em sua obra 21 anos dessa luta. A morte o interrompeu de narrar completamente sua visão da guerra que vivenciou como comandante militar, e sua obra se encerra no de 411-410 a.e.a. Ou seja, seis anos antes do seu término, o qual foi por ele assistido, quando viu a derrota de Atenas, mas não pode relatar.

A “primeira” sofística, como é entendido o movimento do qual participaram Protágoras, Pródicos, Antifon e Górgias, dentre outros Sofistas, ocorreu no chamado século de Péricles, de cujo círculo de amizade participava o primeiro, qual seja, o século V a.e.a. Assim, Tucídides foi contemporâneo deles, logo, conhecia bem seus métodos, tanto assim que os usou abundantemente. A título de exemplo, podemos retirar do diálogo entre Atenienses e Mélios, acima, o seguinte:

a) Platão não foi o primeiro a possuir um “gravador” na antiguidade! Tucídides, que lhe foi antecessor, narra o diálogo acima com uma precisão assombrosa!

b) A cada intervenção de uma das partes (Mélios e Atenienses), fica clara a utilização dos “duplos discursos” propostos por Protágoras, sendo o leitor levado a concordar sempre com a parte que fala, num movimento interno de ida e vinda (concordância e discordância) que avança por todo o texto.

c) Vemos também discutida a tese de Trasímaco, segundo a qual a lei é feita (imposta) pelo mais forte.

d) Também está presente a tese de Crítias quando os Atenienses definem o que entendem por Justiça. Vejamos:

 

A justiça é, por conseguinte, obra do direito natural; esta noção deve ser tomada aqui no sentido que Aristóteles dá, mais tarde ao seu physikon dikáion, e não no sentido de Hobbes ou de Espinosa. Hípias concilia natureza e ética; a sua rejeição do nomos político é feito em nome de uma lei maior e mais ampla, mais rigorosa também. A invocação da natureza – há ainda que insistir nisto – não tem como resultado, para Hípias, permitir a ilegalidade e de alguma maneira avalizá-la; o Anónimo de Jâmblico, atribuído por Untersteiner a Hípias, insiste na exigência da igualdade. Tomemos um dos exemplos que cita: a lei da natureza, que estabelece a interdependência econômica(47). A justiça consiste, pois, em obedecer à lei, mas não à lei escrita da natureza; o nomos é assim superado, ao mesmo tempo que o estreito quadro da cidade que lhe dava origem. A teoria hipiana do direito natural desemboca então no cosmopolitismo, que se adapta plenamente ao enciclopedismo sofista. Hípias chamava à Ásia e à Europa “filhas do Oceano”, estabelecendo assim uma identidade entre estes dois continentes, que era costume contrapor para demonstrar a clivagem entre Bárbaros e Gregos. Por este cosmopolitismo, Hípias opõe-se antecipadamente ao que Hípias chama o “nacionalismo inumano” de Platão; anuncia a filantropia estóica e, em certo sentido, a “catolicidade” cristã. Pensa-se, com efeito, na resposta de Eudoro a Cimodoceu em Chateaubriand, quando Eudoro cobre com o seu manto um escravo encontrado à beira do caminho; Cimodoceu diz-lhe: “Pensaste, sem dúvida, que este escravo era algum deus? – Não, respondeu Eudoro, pensei que era um homem”. [Osório diz: pqp! Que coisa linda!]. (Fonte: Os sofistas, Gilbert Romeyer-Dherbey, tradução João Amado, Edições 70, Lisboa, 1999, p. 88-89).

 

Mas, tudo isso, está desenvolvido ao longo do texto que coligimos e que será exposto oportunamente.

O tão louvado Péricles, “o pai da democracia”, fica por um dia, segundo Plutarco, a discutir uma questão jurídica com Protágoras! Como o sábio e sagaz político iria “perder seu tempo” com alguém que nada soubesse e contribuísse para a fixação de parâmetros para o caso?

Ademais, quando Péricles desejou dar leis (a Constituição) a uma colônia pan-helênica, Túrios, foi Protágoras quem ele escolheu e deu tal incomum e respeitável incumbência. Por que o faria? Certamente que por tê-lo preparado e a altura de tal missão.

Na atualidade não é menor essa influência que parece imorredoura. Assim é que:

 

Verdade, mentira, certeza, incerteza...

Aquele cego ali na estrada também conhece estas palavras.

Estou sentado num degrau alto e tenho as mãos apertadas

Sobre o mais alto dos joelhos cruzados.

Bem: verdade, mentira, certeza, incerteza o que são?

O cego pára na estrada,

Desliguei as mãos de cima do joelho

Verdade, mentira, certeza, incerteza são as mesmas?

Qualquer cousa mudou numa parte da realidade ?? os meus joelhos e as minhas mãos.

Qual é a ciência que tem conhecimento para isto?

O cego continua o seu caminho e eu não faço mais gestos.

Já não é a mesma hora, nem a mesma gente, nem nada igual.

Ser real é isto.”

 

Poetisa Fernando Pessoa, em Obra Poética, Nova Aguilar, volume único, 1997: p. 232.

 

"Certeza é quando a ideia cansa de procurar e pára."

 

Esclarece o poeta Mario Quintana.

 

Questionado pela imprensa com a pergunta: “A literatura utiliza mentiras para dizer a verdade?”, Alberto Manguel respondeu:

 

Depende do que se entende por mentiras. A ‘mentira’ contada por Homero ou Dante são, em termos de realidade humana, ‘verdades’. A ‘verdade’ de nossos informes de rádio e televisão e dos discursos políticos são, em geral, mentiras. Jean Cocteau dizia: ‘Sou uma mentira que diz a verdade’”. (Fonte: OESP, 12.11.10)

 

O trecho acima destacado prova a tese de Barbara Cassin sobre os Sofistas. (Especialmente no capítulo “Do Romance como Sofística” quando citando Ludvikovsky diz: "'em sua origem, o romance foi apenas uma doença da historiografia': o romance só é pseudos do ponto de vista da historiografia”. (Fonte: O efeito sofístico, Barbara Cassin, editora 34, São Paulo, 2005: p. 239/240).

 

O que se chama de verdade acaba, numa aparente contradição, a ser algo negativo para os sábios! Assim é que Górgias demonstra que é mais fácil enganar um sábio que um burro! Leia-se Plutarco em Da Glória dos Atenienses, que diz:

 

A tragédia floresceu e ficou célebre, tornando-se um admirável recital e um espetáculo para os homens de então e proporcionando, com os seus mitos e afectos, uma ilusão; como diz Górgias, aquele que iludiu é mais justo do que aquele que não iludiu e aquele que é iludido é mais sábio do que aquele que não foi iludido. Quem é iludido é mais justo, porque fez o que prometeu. Quem é iludido é mais sábio, pois quem se deixa impressionar pelo prazer das palavras não é insensível. [5, p. 348 c].

 

O budismo, há milênios, já tinha percebido as palavras como meio de nos aprisionar a algo que criamos conceitualmente e passamos a acreditar nessa criação mental como se fosse algo verdadeiro, que mesmo por nós criado de nós se desprendeu e passou a ter existência concreta e absoluta, e essa crença se mostra mais arraigada quanto alguém ousa contestar nossas ‘verdades’, a desdenhar de nossos filhos/crias amados.

Nós achamos que podemos contar com nossas crenças e ideias para nos satisfazer. Mas, se examinarmos os efeitos que elas causam em nós, descobriremos que, na melhor das hipóteses, elas nos satisfazem apenas temporariamente. De fato, elas são verdadeiramente as nossas fontes primárias de ansiedade e medo, porque estão sempre sujeitas à contradição e à dúvida.

Todas as nossas ideias e crenças são, por sua própria natureza, perspectivas imobilizadas fragmentos da Realidade, separados do Todo. Em outras palavras, porque confiamos mais no que pensamos (concepção) do que no que vemos (percepção), há agitação na nossa mente. Dominados por essa situação, ficamos inquietos e ainda sabemos disso.

O fato é que, mesmo agora, já estamos iluminados. Nós conhecemos a Verdade. Apenas costumamos encobrir nossa experiência direta da Verdade com pensamentos crenças, opiniões e ideias. Empilhamos todos eles numa estrutura conceitual, não reconhecendo as consequências do que estamos fazendo.

O problema não é tanto o fato de fazermos isso. De fato, dificilmente conseguimos deixar de criar conceitos. Eu não poderia escrever este livro e você não poderia lê-lo se não criássemos conceitos. O verdadeiro problema é que somos pegos pelos nossos conceitos. Não temos que lhes atribuir o poder, a precisão ou a validade que eles não têm. Simplesmente precisamos reconhecer que nossos conceitos não são a Realidade.

O erro que cometemos, repetidas vezes, consiste em fixarmos automaticamente algo em nossos pensamentos, sem perceber o que fizemos. E então chegamos a uma conclusão precipitada, pensando que captamos algum aspecto da Realidade.

O que examinamos é aquilo que está dominado pelo campo das nossas crenças, opiniões e conceitos; é um mar infinito de incertezas. Os conceitos aos quais nos apegamos são como minúsculos barcos agitados no meio de um vasto oceano. Contamos com nossas crenças e ideias, considerando-as sólidas, mas, na realidade, elas (e nós) estão em mares revoltos. Quaisquer ideias ou crenças que mantemos em nossa mente são necessariamente contrapostas a outras ideias e crenças. Dessa forma, não podemos evitar de sentir a dúvida.

Este é o âmago mais profundo (...) a angústia existencial. É a compreensão de que, abaixo de todas as nossas ideias, há uma profunda e irremovível dúvida. No mesmo instante em que encobrimos nossa experiência real e direta em pensamento conceitual, a dúvida está exatamente ali, agregada a isso para sempre.

Criar conceitos é ver aspectos separados e distintos. Isso não se refere somente a ideias e pensamentos. Objetos físicos um copo, um livro, mesmo a luz que está sobre esta página são, ainda assim, conceituais. Todavia, eles são coisas que concebemos em nossa mente, separadas do Todo e contrapostas a qualquer outra coisa. Podemos falar a respeito delas, usá-las e manipulá-las. Podemos buscá-las, ansiar por elas ou deixá-las de lado. Não deveríamos, entretanto, tomar por Realidade esses objetos conceituados, imobilizados, isolados do todo. É nesse ponto que erramos...

O maior erro que cometemos em confundir um conceito com a Realidade está em fazermos a distinção mais familiar, estimada e fundamental: a separação entre o eu e tudo o mais. ‘Eu estou aqui, e lá adiante está um mundo estranho a mim’. Acreditando, inquestionavelmente, que isso seja uma descrição integral e exata da Realidade, ignoramos a experiência imediata e buscamos outras coisas bem-estar, felicidade, sentido ‘fora de nós’. ‘Vá em busca disso’, dizemos. (E nossa confusão permanece irredutível, mesmo quando buscamos essas coisas ‘dentro de nós’.).

Chegamos até mesmo a transformar a iluminação nesse objeto. Ao agir dessa forma, no entanto, não conseguimos ver que fizemos disso apenas um outro conceito, ideia ou item a ser perseguido ¡ª algo bastante comum e ilusório.

Mas, se olharmos bem de perto para a nossa experiência imediata, simplesmente não poderemos encontrar essa divisão. Na verdade, quanto mais nos esforçamos para ver, mais absurda e impossível se torna essa distinção.

Como vimos, há um segundo tipo de visão, que Buda chamou de visão correta. Visão correta não é um conceito ou uma crença. De fato, não é nada específico. Visão correta é simplesmente ver a Realidade tal como ela é, aqui e agora, a cada momento. É contar com a mera atenção despida da consciência do que é, antes de surgir o pensamento conceitual. É confiar mais no que realmente experimentamos do que no que pensamos.

Se alguma vez estivermos na iminência de encontrar convicção o verdadeiro conhecimento do que está além de toda dúvida e equívoco isso claramente não virá de nossos conceitos e crenças, que estão em competição. Ao contrário, o verdadeiro conhecimento precisa surgir antes de todas as ideias e opiniões. Em outras palavras, não há nada além da experiência imediata e direta do mundo e no mundo. O verdadeiro conhecimento é ver desse modo.”. (Steve Hagen: Budismo claro e simples, Pensamento, São Paulo: 2000, p. 113).

 

Nietzsche, que bebeu muito do seu pensar no Oriente, diz:

 

O que é, então, a verdade? Uma multidão movente de metáforas, de metonímias, de antropomorfismos, em resumo, um conjunto de relações humanas poeticamente e retoricamente erguidas, transpostas, enfeitadas, e que depois de um longo uso, parecem a um povo firmes, canônicas e constrangedoras: as verdades são ilusões que nós esquecemos que o são, metáforas que foram usadas e que perderam o seu cunho e que a partir de então, entram em consideração já não como moedas, mas apenas como metal”. (Fonte: Obras incompletas. Nietzsche. Coleção Os Pensadores. Abril. São Paulo. 1978. p. 94).

 

Mas foi exatamente ao perceberem essa prisão imposta pelas palavras que os sofistas passaram a questionar o “saber”, o “pensamento”, o “conhecimento”. Não como forma de negá-los, mas, simplesmente, de dizer: pessoal, não é por aí que se deve ir.

Mas este alerta irá transformá-los nas “bestas-feras”, em tudo aquilo que eles não são, ou que são por ousarem contestar o que para alguns é incontestável.

Alerta importante: os sofistas pensaram antes dos seus detratores e não tiveram, portanto, a menor chance de se defenderem. O que seria interessantíssimo. Resta aos seus conhecedores, com a imparcialidade possível, tentar fazê-lo.

Estavam mortos quanto foram criticados, especialmente pelo principal de seus detratores, Platão, e, mais a sério, pelo “discípulo” deste, Aristóteles.

Parecia ser inquestionável o pensamento/doutrina/ensinamento de Parmênides, escudado por seu discípulo Zenon, especialmente o seguinte:

 

Somente ‘aquilo que é’ pode ser expresso e conhecido, porque o ser e o pensar são a mesma coisa; ‘aquilo que não é’, portanto, não pode ser pensado nem expresso”.

 

De repente aparece Górgias e ousa questionar isso, de maneira muito simples, dizendo:

 

Se só o que é pode ser expresso, o que ocorre quando eu expresso: “carruagens andam sobre o mar”?

 

Outro sofista, diz:

 

se ser e pensar são a mesma coisa, e somente eles podem ser expressos, e já que eu posso me expressar sobre tudo, é impossível mentir”.

 

É com isso que o desespero se abate sobre o pensamento/prisão!

Os vigilantes dessa prisão, erguida com palavras, gritarão enfurecidos: alguém está querendo fugir de nossos calabouços. Não podemos permitir que isso ocorra! O que será de nós sem nossos prisioneiros?

Então começa o ataque àqueles que ousaram mostrar que o “rei estava nu”: aos sofistas.

 

 

 

16

Você está aqui: Home | Sofistas da Atenas de Péricles | Visão geral