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36 – Por que a mudança de sentido da palavra que levará os Sofistas de “sábios” a “enganadores”?

Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

36 – Por que a mudança de sentido da palavra que levará os Sofistas de “sábios” a “enganadores”?

 

Nossas pesquisas têm nos apontado que as contestações aos Sofistas são provenientes das influências que eles, com seus pensamentos inovadores, exerceram sobre a religião, a política e a justiça (lei), especialmente, pois é essa tríade que sustentava a vida social da cidade de Atenas, como de resto se sustentam todos os Estado Modernos.

A despeito de não possuir uma religião oficial, Atenas cultuava seus deuses e os festejava amplamente.

De repente aparece um sofista, Crítias, e diz que os “homens criaram os deuses, e não os deuses criaram o homem”, isso após Protágoras ter afirmado que “o homem é a medida de todas as coisas”!

Isso só podia gerar o escândalo que gerou, trazendo ou impondo as adversidades que se seguiram em relação a estes pensadores, aí sim, inovadores.

Não menor foi o escândalo por eles causados no âmbito da justiça, pois defenderam que “a justiça é o interesse do mais forte”, especialmente com Trasímaco.

Ocorre que Atenas vivia momento de transição também no campo da política. A democracia abria a possibilidade de qualquer um ascender ao poder, desde que obtivesse o voto de confiança de seus concidadãos. Mas, isso, provocava a reação odiosa dos que eram enfrentados na disputa pelo poder, fundamentalmente a aristocracia, que nunca tinha encontrado em seu caminho opositores, e cujo maior representante, na divulgação do pensamento e contestação aos sofistas é, justamente, o aristocrata Platão, seguindo a trilha de outro, Aristófanes, sendo aquele membro de uma família nobre, rica e poderosa, mas que, com a ajuda trazida pelos ensinamentos dos Sofistas, enfrentava dificuldades em se manter no poder. No mínimo, seus membros, para ascender ao poder, tinham que receber a aquiescência popular, como foi o caso do próprio Péricles.

Há sempre um motivo nas disputas políticas a separar facções e foi, entendemos, justamente a defesa da conservação do poder pela aristocracia que levou Platão a apontar sua escrita contra os Sofistas que eram, de certo modo, os responsáveis pelo fornecimento de “armas” (logos/discurso) aos seus adversários.

Posteriormente as religiões fizeram de Platão um dos seus guias e, além disso, aprofundaram suas levianas críticas e as quase perpetuaram no seio do pensamento/cultura ocidental, da qual a igreja se tornou criadora e guardiã.

 

Ensina Kerferd:

 

O nome sofista está claramente relacionado com as palavras gregas sophos e sophia, comumente traduzidas por "sábio" e "sabedoria". Conforme a explicação corrente, adotada tanto nos nossos dicionários como em nossas histórias da filosofia, esses termos sofreram uma espécie de evolução [Osório diz: ou seria uma involução], quanto ao seu sentido, de (1) habilidade em uma determinada ocupação, especialmente ofício manual, passando por (2) prudência ou sabedoria em questões gerais, especialmente sabedoria prática e política, para (3) sabedoria científica, teórica ou filosófica. Tentei argumentar, alhures, que essa sequência é artificial e não-histórica, sendo essencialmente baseada em Aristóteles e na sua tentativa de esquematizar a história do pensamento de antes de seu tempo dentro de um quadro ilustrativo de sua própria visão da natureza da filosofia, enfatizando sobretudo a procedência do particular para o universal. Desde o início, sophia era, de fato, associada ao poeta, ao vidente e ao sábio, todos os que revelavam um saber não concedido aos outros mortais. O saber assim obtido não era uma questão de técnica como tal, fosse poética ou qualquer outra, mas conhecimento dos deuses, do homem e da sociedade, ao qual o "sábio" afirmava ter acesso privilegiado. [Osório diz: ”poeta, ao vidente e ao sábio, todos os que revelavam um saber não concedido aos outros mortais”.Há uma espécie de evolução, embora o vidente não se encaixe muito bem aí. De qualquer modo, Platão voltará ao vidente!]

Do século V a.C. em diante, o termo sophistês é aplicado a muitos desses primeiros "sábios" — a poetas, inclusive Homero e Hesíodo, a músicos e rapsodos, adivinhos e videntes, aos Sete Sábios e a outros antigos sábios, aos filósofos pré-socráticos, e a personagens tais como Prometeu, sugerindo poderes misteriosos [Osório diz: quem eram os sofistas, num primeiro momento. Será que foram esses que Platão e Aristóteles tentaram desqualificar, embora não merecessem ser desqualificados?]. Não há nada de depreciativo nessas aplicações, muito pelo contrário. É a essa respeitável tradição que Protágoras deseja se incorporar na passagem, já citada, do diálogo de Platão, Protágoras (316c5-e5). [Osório diz: Motivos pelos quais Protágoras se assume como sendo um sofista!]. (Fonte: O movimento sofista, G. B. Kerferd, tradução de Margarida Oliva, Loyola, São Paulo, 2003, p. 45-46).

 

 

 

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