visão geral

Você está aqui: Home | Sofistas da Atenas de Péricles | Visão geral

45.44 – Protágoras precursor de Kant e Marx.

Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

45.44 – Protágoras precursor de Kant e Marx.

 

Arendt propõe, em A condição do homem moderno, uma interpretação complexa, e finalmente desfavorável, do "homem medida": Protágoras aparece aí antes de mais nada, "como o primeiro precursor de Kant, pois se o homem é a medida de tudo, o homem se torna o único objeto a escapar das relações de fins e de meios, o único fim em si a poder utilizar todo o resto como meio" (p. 177). Entretanto, como sugere a réplica paradoxal de Platão nas Leis, para quem não é o homem mas "o deus que é a medida dos objetos de uso" (716d, citada p. 178), Protágoras é, no fim das contas, o precursor de Marx, já que ele estende, quer queira quer não, o modelo do homo faber ao conjunto do mundo, correndo assim o risco de transformar esse mundo e o espaço público em um simples mercado ("o vento serve para..."; cf. p-186).” [Osório diz: Protágoras precursor de Kant e Marx]. (Fonte: Ensaios Sofísticos, Barbara Cassin, Tradução de Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão, Edições Siciliano, São Paulo, 1990, p. 200).

 

Ensina Gilbert Romeyer-Dherbey:

 

Qual é, em rigor, o significado desta teoria? Karl Popper nega-se a falar, a seu propósito, de contrato social sob o pretexto de que não se apresenta “sob uma forma historicista”. É verdade que a concepção histórica moderna é estranha ao mundo grego, mas, apesar de tudo, há em Lícofron uma teoria contratual da comunidade na medida em que esta não é espontânea (natural) e tem a sua origem num pacto de aliança (lei convencional). O pressuposto da teoria é a afirmação do individualismo, o que não é para espantar num sofista. O indivíduo existe por natureza, a Cidade é uma construção. Esta construção não tem senão o alcance limitado de uma aliança, limitada no tempo, limitada pela condição de aliança. Isto explica que a lei não atinja verdadeiramente a natureza profunda do homem e que seja impotente para a modificar: “não é capaz de tornar bons e justos os cidadãos”. A política não pode, portanto, coroar a esperança que Platão nela virá a pôr: caminhar de mãos dadas com a moral, o governante íntegro elaborando leis boas, as leis boas formando governados íntegros. Esta ineficácia ética das leis não impede, no entanto, de se resolver o problema político: basta que o cidadão esclarecido se aperceba de que há interesse em respeitar, pelo menos exteriormente, o direito. Pensamos em Kant, que dirá, mais tarde, que o problema político tem solução até no seio de uma comunidade de demônios, contanto que tenham senso comum.” (Fonte: Os sofistas, Gilbert Romeyer-Dherbey, tradução João Amado, Edições 70, Lisboa, 1999, p. 56).

 

 

 

2

Você está aqui: Home | Sofistas da Atenas de Péricles | Visão geral