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47.7 – Arrythmiston, por Antifonte.

Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

47.7 – Arrythmiston, por Antifonte.

 

Nos diz Gilbert Romeyer-Dherbey:

 

Antífon não emprega, como Aristóteles, o termo matéria, mas um conceito que parece ser-lhe exclusivo, isto é, o de arrythmiston: é o arrythmiston que constitui a natureza profunda dos seres, a sua verdadeira realidade. O primeiro problema que temos a resolver é, antes de mais, como compreender e traduzir este conceito. Arrythmiston significa o que é privado, ou antes, livre, de todo o rythmos, de todo o “ritmo”. Se não somos esclarecidos por esta nota é porque damos atualmente ao termo de “ritmo” um sentido completamente diferente do que possui o rythmos dos pensadores socráticos. Se o nosso “ritmo” nos remete antes para o domínio da música, portanto, da experiência auditiva, o rythmos, pelo contrário, refere-se à experiência visual das formas. O regresso ao primitivo sentido do “ritmo” passa por uma investigação sobre a etimologia da palavra. Influenciados pela sua conotação musical, os gramáticos fizeram-no derivar do verbo rhein, que significa “correr”. Jaeger foi um dos primeiros a por em questão a etimologia clássica analisando uma série de aparições de rythmos (ou rhysmos) em que o contexto prova que esta palavra não tem qualquer relação com “correr”, mas significa antes o contrário, a saber, a paragem entre limites que fecham um traçado. Aristóteles informa-nos que os atomistas empregavam o rythmos para designar o perfil dos átomos e usa “contorno” (schêma) como termo equivalente. E. Benveniste dedicou um artigo à “noção de ritmo na sua expressão linguística” em que aponta as vezes que aparece rythmos e os termos aparentados “desde a origem até o período ático”, concluindo que “o sentido permanente é: forma distintiva, figura proporcionada, disposição”. Benveniste acrescenta que Aristóteles, baseando-se em rythmos “forja arrythmistos, não reduzindo a uma forma, inorganizada. Julgamos que não foi Aristóteles que inventou arrythmiston, mas Antífon, como o demonstra o texto da Física onde o mesmo problema do ser da natureza é abordado. O rythmos é, portanto, o que poderíamos expressar por modelo, o contorno ou ainda a estrutura, a organização; aproxima-se muito de outro conceito de Antífon, o de diáthesis, disposição, ordem. O arrythmiston é, para retomar uma tradução heideggeriana, o “livre de estrutura”, ou talvez ainda o “fundo”, no sentido de Schelling (Grund).” [Osório diz: rythmos (ritmo) em seu sentido antifoniano ou primitivo]

Assim como na cosmologia de Antífon o arrythmiston representava o real e o profundo, o rhythmos o superficial, o aparente. (Fonte: Os sofistas, Gilbert Romeyer-Dherbey, tradução João Amado, Edições 70, Lisboa, 1999, p. 92-93).

 

 

 

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