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48.2 – O debate constitucional, por Trasímaco.

Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

48.2 – O debate constitucional, por Trasímaco.

 

Gilbert Romeyer-Dherbey doutrina:

 

Untersteiner lê o fragmento “Da Constituição” à luz da Constituição dos Atenienses do Velho Oligarca. Vê nele uma denúncia do sistema maioritário da democracia; esta gasta-se em discursos contraditórios e em lutas intestinas, quando o perigo se tornava iminente. Conclui: “a solução que Trasímaco propõe coincide com a palavra de ordem do partido oligárquico, isto é, com o regresso à Constituição dos pais”.

Não vemos, da nossa parte, neste texto a marca de um espírito partidário, mas, pelo contrário, um esforço do sofista por se elevar acima da confusão. O orador começa por se desculpar de intervir, apesar da sua juventude, nos assuntos públicos, mas as desgraças que hoje afligem a Cidade têm uma causa política, e “há que tomar a palavra”. Estas desgraças são de duas ordens: conflito no exterior (guerra do Peloponeso), discórdia no interior (luta entre oligarcas e democratas). O remédio que Trasímaco propõe resume-se numa palavra: Homonoia, a concórdia. Este acordo pode realizar-se a um duplo nível, no pensamento e na ação; e é tanto mais fácil de conseguir quanto já existe. Com efeito, os adversários julgam apenas opor-se e não sentem que, no domínio prático, eles querem fazer as mesmas coisas, e que, no domínio teórico, “a afirmação dos outros está contida nas suas afirmações que aqueles dirigem”. Esta última fórmula é notável pela dialeticidade que deixa entrever; bem longe de se armar em profissional da erística, o sofista lança aqui as bases de um verdadeiro logos de reconciliação. Trasímaco opõe-se, por isto, a Protágoras e à sua tese de antilogia: as contradições resolvem-se pela implicação mútua dos discursos, que só são contrárias na aparência. Este tema da homonoia já é muito atuante em Antífon e, em menor grau, em Hípias: notamos, uma vez mais, como é falso ver, nos sofistas, os mestres intelectuais da violência.” (Fonte: Os sofistas, Gilbert Romeyer-Dherbey, tradução João Amado, Edições 70, Lisboa, 1999, p. 70-71).

 

 

 

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