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55 – A virtude como privilégio da aristocracia, seu combate pela Sofística.

Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

55 – A virtude como privilégio da aristocracia, seu combate pela Sofística.

 

Guthrie diz:

 

Arete, quando usada sem qualificação, denotava as qualidades de excelência humana que fazia o homem líder natural em sua comunidade, e até então crera-se que ela dependia de certos dons naturais e mesmo divinos que eram a marca do bom nascimento e geração. Eram definitivamente assunto da physis, cultivada, à medida que o rapaz crescia, pela experiência de viver com exemplo de seu pai e pessoas mais velhas buscando segui-lo. Assim eram, transmitidos naturalmente e raramente de maneira consciente, uma prerrogativa da classe que nasceu para governar...” [Osório diz: Platão]

Teógnis está cheio de máximas éticas, algumas de alcance geral e outras em apoio da supremacia da alta classe. (Fonte: Os sofistas, W. K. C. Guthrie, tradução, João Rezende Costa, Paulus, São Paulo, 1995, p. 28-29).

 

Ensina Kerferd:

 

O solvente da ideia de igualdade, contudo, teve um impacto maior em outras áreas além da econômica. Talvez o mais importante tenha sido na área das reivindicações de superioridade baseada no nascimento e nas origens da família. Caso se possa confiar na restauração um tanto incerta de uma passagem em papiro, parece que Antífon disse que respeitamos e admiramos os filhos de pais ilustres, mas os que não vieram de lares ilustres, nem admiramos, nem respeitamos (DK 87B44, II, p. 352). Se a restauração estiver correta, isso deve se relacionar com o que ele diz nas linhas que se seguem imediatamente, a saber, que por natureza, todos nós somos da mesma natureza sob todos os aspectos (para a passagem inteira, ver abaixo p. 268-269). O sofista Licofron (DK 83.4) é citado como tendo dito que "nobreza de nascimento é totalmente inútil. Pois disse ele que sua beleza não é alguma coisa que se possa ver, sua grandeza é uma questão do que os homens dizem (logos) — a preferência por ela é só uma questão de opinião. Na verdade, os que são ignóbeis não diferem em nada dos bem-nascidos" [Osório diz: nobreza e hereditariedade]. Aqui, as referências à verdade e à opinião sugerem que Licofron não está fazendo apenas uma declaração social e política, mas está também tentando sustentá-la recorrendo à oposição sofista entre physis e nomos.

Nossa informação sobre Licofron vem do diálogo Sobre o bom nascimento, composto por Aristóteles. Se tivéssemos mais do que os pouquíssimos fragmentos que sobraram dele, é provável que se revelasse ser um bom resumo do que ocorria nas discussões sofistas sobre o assunto. Nas atuais condições, podemos provavelmente obter mais informação sobre isso em uma notável passagem no Teeteto (174e-175b), de Platão, onde Sócrates louva a percepção do verdadeiro filósofo. Apesar de sua extensão, vale a pena citá-la toda.

Quando as pessoas cantam louvores da linhagem e dizem quão nobre é alguém porque pode mencionar sete ricos antepassados, ele pensa que o louvor vem de pessoas cuja visão é baça e míope, pessoas que, por causa de sua falta de instrução, são incapazes de manter os olhos fixos no todo, e não podem calcular que cada homem teve inúmeros milhares de ancestrais e antepassados, dentre os quais houve incontáveis casos de homens ricos e pobres, de reis e escravos, de bárbaros e gregos. Quando as pessoas se dão ares por conta de uma lista de vinte e cinco antepassados e traçam sua descendência desde Hércules, o filho de Anfitrion, isso o impressiona como revelador de uma estranha estreiteza de visão. Ele ri daqueles que não podem calcular que foi apenas uma questão de sorte o tipo de pessoa que foi o vigésimo quinto de Anfitrion para trás, ou o qüinquagésimo. Em todos esses cados, é do próprio filósofo que muitos riem, por parecer arrogante e por sua incapacidade de compreender os fatos [consagrados] da vida cotidiana. [Osório diz: Sócrates histórico e a nobreza de nascimento].

Semelhante, nas suas implicações, é a declaração do coro, em um fragmento de Alexandres de Eurípides, preservado por Estobeu (fr. 52N), onde lemos:

 

Nosso logos vai longe demais, se louvamos bom berço entre os mortais. Pois, quando há muito tempo viemos à existência, e a Terra que tinha dado nascença aos mortais depois separou uns dos outros, a terra, por seu processo de criação, imprimiu, em cada um, uma aparência igual. Não temos marcas especiais. Bem-nascidos e mal-nascidos são da mesma raça. É o tempo que, pelo nomos, faz do bom berço uma questão de orgulho.[Osório diz: os bem nascidos].

 

Aqui talvez valha a pena dizer que esta passagem não está dizendo que todos os homens são de igual mérito, somente que mérito não deve estar relacionado com bom berço. [Osório diz: mérito e berço]. (Fonte: O movimento sofista, G. B. Kerferd, tradução de Margarida Oliva, Loyola, São Paulo, 2003, p. 263-264).

 

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