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60.1 – Cosmopolitismo, segundo os sofistas.

Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

60.1 – Cosmopolitismo, segundo os sofistas.

 

Nos diz Guthrie:

 

Um aspecto atraente da antítese nomos-physis é que ela patrocinou os primeiros passos rumo ao cosmopolitismo e à idéia da unidade do gênero humano.

(...)

Antífon foi mais longe (como Hípias também pode ter feito), e depois de censurar distinções baseadas em nascimento nobre e inferior passou a declarar que não há nenhuma diferença de natureza entre bárbaros e gregos.” [Osório diz: Platão!]. (Fonte: Os sofistas, W. K. C. Guthrie, tradução, João Rezende Costa, Paulus, São Paulo, 1995, p. 27 e 28).

 

Ensina Gilbert Romeyer-Dherbey:

 

A justiça é, por conseguinte, obra do direito natural; esta noção deve ser tomada aqui no sentido que Aristóteles dá, mais tarde ao seu physikon dikáion, e não no sentido de Hobbes ou de Espinosa. Hípias concilia natureza e ética; a sua rejeição do nomos político é feito em nome de uma lei maior e mais ampla, mais rigorosa também. A invocação da natureza – há ainda que insistir nisto – não tem como resultado, para Hípias, permitir a ilegalidade e de alguma maneira avalizá-la; o Anónimo de Jâmblico, atribuído por Untersteiner a Hípias, insiste na exigência da igualdade. Tomemos um dos exemplos que cita: a lei da natureza, que estabelece a interdependência econômica. A justiça consiste, pois, em obedecer à lei, mas não à lei escrita da natureza; o nomos é assim superado, ao mesmo tempo que o estreito quadro da cidade que lhe dava origem. A teoria hipiana do direito natural desemboca então no cosmopolitismo, que se adapta plenamente ao enciclopedismo sofista. Hípias chamava à Ásia e à Europa “filhas do Oceano”, estabelecendo assim uma identidade entre estes dois continentes, que era costume contrapor para demonstrar a clivagem entre Bárbaros e Gregos. Por este cosmopolitismo, Hípias opõe-se antecipadamente ao que Hípias chama o “nacionalismo inumano” de Platão; anuncia a filantropia estoica e, em certo sentido, a “catolicidade” cristã. Pensa-se, com efeito, na resposta de Eudoro a Cimodoceu em Chateaubriand, quando Eudoro cobre com o seu manto um escravo encontrado à beira do caminho; Cimodoceu diz-lhe: “Pensaste, sem dúvida, que este escravo era algum deus? – Não, respondeu Eudoro, pensei que era um homem”. [Osório diz: pqp! Que coisa linda!].

Se o cosmopolitismo é movido por esta idéia que o grupo humano deve integrar e não excluir, compreende-se que, politicamente falando, Hípias foi favorável ao regime democrático. Apesar de tudo, tal como o sistema de Atenas lhe forneceu o modelo; quer-se o reformador da democracia. Com efeito, protestou contra o seu sistema de acesso às magistraturas, que podia dar, temporariamente, o poder a incompetentes; semelhante procedimento é demagógico e absurdo: porque não fazer tocar a cítara ao tocador de flauta e a flauta ao tocador de cítara? Hípias, apesar de tudo, está aqui muito longe de Sócrates, que condenava ao mesmo tempo o sorteio e a democracia; Hípias condena a tiragem à sorte porque, devia dizer, “sou de opinião que não é nada democrática”. Os partidários do sorteio são os inimigos objetivos da democracia [Osório diz: mas como ocorriam as candidaturas? Ou todos eram candidatos naturalmente?]; “existem, com efeito, nas cidades dos homens inimigos do povo”; se uma sorte cega os escolhe, “destruirão o governo popular”. O intelectualismo de Hípias inclina-se a favor da democracia esclarecida, arrancando a Sócrates e a Platão o seu melhor argumento contra o governo do povo. Enquanto homem universal aberto a todas as técnicas, Hípias prova que a posse de ofícios particulares não prejudica necessariamente os conhecimentos intelectuais gerais, ou seja, a polimatia [Osório diz: isso devia arrasar Platão]; rejeita, assim antecipadamente a argumentação platônica segundo a qual os artistas, agarrados à especialidade da sua arte, não podiam julgar validamente os assuntos da Cidade, por falta de conhecimentos no domínio muito mais amplo da política. [Osório diz: Platão era um idiota mesmo! O que diria de Ronald Regan? (eu não gosto deste, mas...)]. (Fonte: Os sofistas, Gilbert Romeyer-Dherbey, tradução João Amado, Edições 70, Lisboa, 1999, p. 88-90).

 

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