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66.2 – Igualdade social, vista pela Sofística.

Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

66.2 – Igualdade social, vista pela Sofística.

 

Nos diz Guthrier:

 

O espírito de igualitarismo levou a questionar as distinções baseadas não só em riqueza, mas também em nascimento e razão, e até mesmo a distinção entre patrão e escravo, que até então parecera à maioria dos gregos natural e fundamental. [Osório diz: questionamento à aristocracia/Platão].

Antífon, o opositor do nomos em todas as suas formas, expressou seu desafio ao nascimento nobre e à raça em importante parágrafo que até o momento não apareceu no nosso sumário dos fragmentos de papiro. É o seguinte:

 

Os filhos de pais nobres nós os respeitamos e consideramos, mas os filhos de lares humildes nem respeitamos nem consideramos. Nisso nos comportamos uns para com os outros como bárbaros, pois por natureza todos fomos feitos para sermos iguais em todos os aspectos, bárbaros e gregos. Pode-se vê-lo das necessidades que todos os homens têm. [A elas se pode satisfazer da mesma forma por todos os homens, e em tudo isso] nenhum de nós está marcado como bárbaro ou grego; pois todos nós respiramos o ar com nossa boca e nossas narinas [comemos com nossas mãos?]... [Osório diz: Antifonte o anti Platão]

 

[Barbaroi significa estritamente todos os povos de fala não-grega, e usa-se com frequência para fazer esta distinção de fato sem nenhuma implicação pejorativa. Todavia os gregos tinham forte senso de sua superioridade com respeito aos outros homens, e com mais frequência se destacava a implicação pejorativa. No discurso comum, a palavra portava imputação de ignorância, estupidez, ou falta de senso moral. É um insulto quando Tindareu diz a Menelau (Eur. Or. 485) bebarbarosai, chronios on en barbarois.[Osório diz: Bárbaro – Dicionário].

 

Se a lógica desta passagem parece estranha ("Damos grande atenção a nascimento nobre, mas isso é comportar-se como bárbaros, pois (epei) na realidade não ha nenhuma diferença entre bárbaros e gregos"), pode ser devido ao estado fragmentário do texto [E sem dúvida também a uma busca sofística de efeito retórico por meio do duplo significado (fatual e pejorativo) de bárbaros. A argumentação inteira pode ter sido mais ou menos assim: "Damos demasiada atenção a raça de um homem ou, dentro de nossa própria raça, a sua descendência. Chamamos o resto da humanidade de barbaroi, e usamos o termo para dizer ignorantes ou sem civilização; e ao mesmo tempo respeitamos ou desprezamos as pessoas segundo sua ascendência. Se bárbaros significa estúpido, não somos os reais barbaroi aqui? De fato não existe nenhuma diferença de natureza entre gregos e não-gregos. Todos os homens são o mesmo na base, tendo as mesmas necessidades e meios de satisfazê-las. Também não existe diferença essencial entre nascidos nobres e nascidos pobres".[Osório diz: Bárbaro – Dicionário]], mas ao menos a mensagem de Antifon é clara, que na natureza não há nenhuma distinção essencial entre nascimento nobre e baixo nem entre diferentes raças. [Osório diz: Antifonte o anti Platão]

Outro que pela mesma época ou um pouco mais tarde (há muita incerteza acerca da data) censurou as distinções baseadas em nascimento foi o sofista Licófron. Sabemo-Io por Aristóteles:

 

E coisa preciosa e boa, ou, como Licofron, o Sofista, escreveu, algo inteiramente inútil? Comparando-o com outros bens, ele diz que seu esplendor não é aparente, e sua dignidade está em palavras, sustentando que preferi-lo é questão de opinião, já que na verdade nenhuma diferença há entre nascimento pobre e nascimento nobre.

 

Semelhantes sentimentos acerca do nascimento nobre estão freqüentemente nos lábios de personagens de Eurípedes. [Osório diz: um dedicado aluno dos sofistas]

[No interesse da precisão, deve-se dizer que no prólogo o camponês se proclama descendente de linha nobre, que desceu ao mundo, mas como ele diz: "a pobreza elimina a nobreza",e em vista das [p. 144] observações de Orestes parece que pouco alcance se dá ao fato. Na Grécia, também nos tempos de Eurípedes, linhagem nobre e posse material ainda se associavam mais do que entre nós (Nestle, Euripides, 323), e a inutilidade da primeira sem a segunda frisa-se alhures em Eurípedes (fr. 22, 95, 326). Para sua atitude para com o dinheiro em geral, v. Nestle, Eur. 334ss. Que a pobreza não precise destruir a nobreza de caráter repete-se num fragmento do seu Arquelau (fr. 232). Mas nunca se deve esquecer que estas linhas são faladas por personagem. O fr. 235 expressa total desprezo por riqueza, mas o fr. 248 parece ultrajar a pobreza, e todos os três fragmentos são da mesma peça. [Osório diz: de personagens com visões diversas?]].

Reflexões como estas (367ss): “Sobre virtude varonil nada é claro, pois há confusões na natureza dos homens. Vi filho sem valor de nobre pai, e filhos justos nascidos dos indignos, pobreza de sagacidade num homem rico e grande mente no corpo de homem pobre”. Mais franca é uma personagem não-identificada em Dictys (fr. 336): “De nascimento nobre tenho pouco bem a falar. A meus olhos, o homem bom é o nobre, e o injusto é o de nascimento pobre ainda que seu pai seja maior que Zeus”. Estão de acordo com isso diversas passagens sobre bastardia que insistem que o bastardo é por natureza igual ao legítimo, e apenas inferior pelo nomos, ou pelo nome [Que os bem-nascidos são os virtuosos foi afirmado, diz-se, por Antístenes (DL, 6.10) (Androm. 638, fr. 141, 168,377.).[Osório diz: nesta afirmação ele é sofista ou socrático?]]. O tema de Alexander (o príncipe Príamo disfarçado como pastor escravo) deu a Eurípides a oportunidade de levantar as questões do nascimento e da escravidão de ambos os lados. Sobre o nascimento o coro canta (fr. 52): [Osório diz: os sofistas estavam adiantados no tempo / Péricles e outros, traíram sua classe (aristocracia)]

 

Iremos longe demais se elogiármos o nascimento nobre entre os mortais. Quando, há muito tempo, a raça humana nasceu, e a Terra nossa mãe os produziu, a terra gerou-os a todos para parecerem iguais. Não temos nenhum traço peculiar, nascidos nobres e nascidos pobres são do mesmo material, mas com o passar do tempo o nomos fez do nascimento uma questão de orgulho. [Osório diz: unificar o nome de Eurípides ou Eurípedes?]

 

A obscuridade e a confusão que Eurípedes e Licofron viram neste tópico eram demasiado naturais [Osório diz: natural para quem?] numa época em que a divisão aristocrata-homem do povo absolutamente não coincidiam com a divisão política oligarco-democrata [Osório diz: mas isso era o germe e já percebido por alguns, certamente. Platão apenas desenvolve, ou ele criou? Se ele criou foi ele pior do que eu o tenho como tal]. "Toda a evolução mostra que até o fim do sec. V em Atenas a nobreza formou um poder que podia tornar sua influência fortemente sentida tanto do lado da constituição democrática como também, as vezes, em veemente oposição a ela". 19 Para Eurípedes, o teste é moral. Não mais nobre e bom, nascido pobre e mau, podem ser termos intercambiáveis como o foram para Teógnis, cujas palavras são obviamente a datadas para um sentido moral nas linhas: "Nobreza não se associa com o mal, mas com o bem" (Alex. Fr. 53).” (Fonte: Os sofistas, W. K. C. Guthrie, tradução, João Rezende Costa, Paulus, São Paulo, 1995, p. 143-145).

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