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127 – Unidade da Sofística – balanço do movimento sofístico.

Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

127 – Unidade da Sofística – balanço do movimento sofístico.

 

Doutrina Gilbert Romeyer-Dherbey:

 

A diversidade das doutrinas de que acabamos de tentar a reconstrução e a sua clara originalidade não nos permitem caracterizar um sistema de pensamento único, cujo nome seria “sofística” e que se oporia à “filosofia”. Cientificamente, não pode realizar-se a miscelânea de Protágoras e de Górgias, de Pródico e Trasímaco, de Hípias e de Antífon, para obter uma essência sofística, já que os Sofistas históricos se opuseram frequentemente entre si no plano doutrinal.

A unidade do movimento sofístico é antes uma unidade exterior, que traça uma espécie de estatuto social: os Sofistas querem-se educadores e sábios que trocam os seus serviços contra remuneração direta com o utilizador. Sob o ponto de vista do pensamento, a sofística não é um gênero; poderá então opor-se ainda monoliticamente à filosofia, também ela entendida monoliticamente? Esta oposição global não é, no fundo, senão própria da filosofia platônica e válida para ela, mas a oposição de Platão não é a de um historiador imparcial da filosofia.

Os Sofistas devem, pois, tal como os outros pré-socráticos, ser estudados individualmente e reintegrados na história da filosofia propriamente dita. Muitas das teses professadas por eles serão, aliás, retomadas pelos filósofos ulteriores, e julgamos ter mostrado que o seu esforço de pensamento não nos permite classificar os Sofistas como puros charlatães, fabricantes e negociantes de ilusões [Osório diz: parece que, ao final e ao cabo, quem é tudo isso é o acusador, no caso Platão!]. Não se pode ver neles os mestres do (p. 117) irracionalismo, ainda que as suas concepções são muitas vezes diferentes das da filosofia platônico-aristotélica [Osório diz: mas até agora não se chegou a uma “racionalidade incontestável”, o que significa que, tudo permanece irracional!].

Sem dúvida, será devido a uma idéia mais ampla e mais compreensiva da razão que a filosofia moderna fará sair os Sofistas da marginalidade em que foram mantidos. Aristóteles censura Homero por ter dito que Heitor, derrubado por uma pancada, jazia “raciocinando de maneira diferente”; Aristóteles não quer ver no allophronein senão um paraphronein, isto é, no pensamento outro senão um pensamento alienado, um não-pensamento. Mas esta concepção de uma razão absoluta é essencialmente grega? O exemplo de Homero parece provar o contrário; um pensamento homérico teria tomado as concepções sofísticas por uma razão diferente da razão platônico-aristotélica, não por uma des-razão ou uma de-mência. Antístenes pensava que não se podia dizer nada, mas simplesmente dizer outra coisa do que aquilo que era exigido; mesmo se o helenismo dos Sofistas diz outra coisa que o dos filósofos pós-socráticos, a sua fala não é nada, não é o inquietante vagabundo do Não-Ser que nos arrastaria para muito longe da verdade. O helenismo não é compacto, atravessam-no muitas correntes opostas, e a conservação de certos textos, o desaparecimento de outros, contribuiu para nos dar uma visão que privilegia exclusivamente tal aspecto em detrimento daquele outro. Convém, portanto, corrigir as nossas perspectivas restituindo a palavra, na medida do possível, às vozes que sussurram através de escritos desastrosamente fragmentários. Assim, pode operar-se um reequilíbrio na leitura do pensamento grego, reequilíbrio que o paciente trabalho da filologia e da filosofia modernas torna agora, algumas vezes, viável. Este trabalho está longe de estar encerrado, a tal ponto que não pareceria demasiada presunção dizer: a Grécia ainda está longe!” (Fonte: Os sofistas, Gilbert Romeyer-Dherbey, tradução João Amado, Edições 70, Lisboa, 1999, p. 117-118).

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